O ex-presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, também foi escutado na “Operação Influencer”, processo que investiga suspeitas de tráfico de influências na aprovação de um centro de dados, em Sines. De acordo com informações recolhidas pela VISÃO, a conversa entre Santos Silva e João Galamba terá acontecido durante o mês de abril de 2023, tendo sido posteriormente validade pelo então presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Henrique Araújo.
Ao que a VISÃO apurou, na conversa, Augusto Santos Silva e João Galamba (o suspeito que tinha o telefone sob escuta) abordaram o tema da TAP, falando ainda de Paula Meira Lourenço, antiga vogal da ANACOM, a autoridade reguladora das comunicações e atual presidente da Comissão Nacional de Protecção de Dados Pessoais. O teor da conversa foi considerado pelo Ministério Público como relevante, o que levou os procuradores a pedirem ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça – que, por lei, é quem tem a competência para validar escutas telefónicas ao Presidente da República, presidente da Assembleia da República e primeiro-ministro – a sua manutenção no processo.
No início de maio de 2023, Henrique Araújo – que já tinha validado algumas escutas telefónicas, nas quais interveio António Costa – aceitou o pedido do MP, mantendo a conversa nos autos, não ordenando a sua desturição.
Esta segunda-feira, a CNN/TVI revelou imagens da busca realizada, em novembro do ano passado, ao gabinete de Vítor Escária, então chefe de gabinete de António Costa. Também foi revelada uma escuta telefónica entre o antigo ministro do Ambiente José Matos Fernandes e o pai, José Manuel Matos Fernandes, ex-presidnete da Assembleia Geral do FC Porto, na qual o segundo refere que o clube foi alertado para uma busca do Ministério Público e que “negociou” a data de realização da operação. Entretanto, a PSP já negou tal facto.
Já António Costa continua a ser investigado num processo autónomo que corre no Departamento Central de Investigação e Acção Penal em paralelo com o caso principal, a Operação Influencer. No mês passado, o ex-primeiro ministro foi ouvido como “declarante”.
A Operação Influencer levou, em novembro de 2023, à detenção de Vítor Escária (chefe de gabinete de António Costa), Diogo Lacerda Machado (consultor e amigo de António Costa), dos administradores da empresa Start Campus Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e do presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, que ficaram em liberdade após interrogatório judicial.
Existem ainda outros arguidos, incluindo o agora ex-ministro das Infraestruturas João Galamba, o ex-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o ex-porta-voz do PS João Tiago Silveira e a Start Campus. Em abril, O Tribunal da Relação de Lisboa não encontrou qualquer indício de crimes na processo. Os juízes afirmaram no acórdão que as suspeitas que recaem sobre António Costa são “meras proclamações assentes em deduções e especulações”.