O encontro entre Sebastião Bugalho, Marta Temido, Catarina Martins e Fidalgo Marques esta noite, na TVI, arrancou com a audição de António Costa, hoje, como testemunha e a possibilidade de estar aberta a porta para a presidência do Conselho Europeu. Marta Temido, do PS, chamou-lhe “uma excelente notícia para começar a noite”.
Sebastião Bugalho, da AD, acompanhou-a, de certa forma: comprovando-se que o ex-primeiro-ministro “não terá cometido crimes em funções, isso deixa qualquer democrata aliviado”. No entanto, acrescentou, quanto à possibilidade de apoiar uma candidatura ao Conselhor Europeu, “não estou aqui para fazer campanha por António Costa, nem a favor nem contra”.
Catarina Martins também se absteve de anunciar um eventual apoio do BE, dizendo que “não vai assumir uma candidatura” antes de o próprio Costa o fazer, enquanto Pedro Fidalgo Marques, do PAN, optou por desviar a discussão para a necessidade de “reforçar os meios da justiça, para que os processos sejam claros e transparentes”.
A moderadora, Sara Pinto, lançou para a mesa a questão do possível alargamento dos prazos do PRR. Marta Temido expressou a sua disponibilidade para lutar por esse alargamento, no Parlamento Europeu, embora não acredite ser necessário, garantindo que o governo do PS estava a fazer um bom trabalho. “O governo [da AD] terá de se empenhar no cumprimento dos prazos do PRR. Portugal cumpriu marcos e metas. A execução financeira do PRR é superior à média da UE.”
Sebastião Bugalho não divergiu da adversária, dizendo esperar que o PRR “seja executado o mais rapidamente possível”. “Tenho toda a confiança que o governo português vai cumprir as metas do PRR.”
Foi aqui que Catarina Martins entrou a pés juntos contra PS e AD, acusando-os de terem estado juntos na mudança das regras de governação económica, ao “dar poder discricionário à Comissão Europeia para decidir” como os fundos são aplicados.
Fidalgo Marques aproveitou o PRR para avançar com as bandeiras do PAN, criticando o novo aeroporto (é o único partido contra a infraestrutura, devido aos impactos ambientais) e apontando o dedo ao “esquecimento da cultura” no PRR e perguntando aos adversários se estavam “disponíveis para terminar todo o financiamento público para as touradas?”
Marta Temido ignorou a pergunta, preferindo focar-se no ataque de Catarina Martins. “Houve uma fase em que o BE defendia a saída do euro. Agora quer acabar com estas regras. O pacote de regras é melhor ou não? Nós achamos que sim. As novas regras garantem maior flexibilidade.”
“A flexibilidade não é dada aos países, é dada à Comissão Europeia”, respondeu Catarina Martins. “É absurdo o Parlamento Europeu ter dado este poder à Comissão.”
Sebastião Bugalho ficou do lado de Marta Temido. “Estranho que Catarina Martins seja contra as regras, que dão uma maior flexibilidade aos Estados para decidirem as suas políticas. Não sou contra este modelo. Permite a quem governa divergir na decisão das políticas públicas, desde que cumpram as regras orçamentais.”
“Se calhar, esqueceram-se de ler o que vai ser cortado para cumprir as tais metas. Tem o poder de decidir sobre a nossa habitação”, retorquiu Catarina Martins, com o cabeça-de-lista da AD a soltar “não é verdade”.
Fidalgo Marques ficou do lado da representante do BE. “Não podemos voltar a ficar reféns do défice e da dívida. Portugal continua sem ter flexibilidade para investir na educação e na emergência climática. Temos de trocar para esta política de investimento, na habitação, na saúde, na investigação ao combate ao cancro. Continuamos reféns deste binómio défice-dívida. Temos de ir para uma narrativa de investimento.”
Marta Temido ainda voltou a intervir para defender a herança socialista. “Temos hoje no País um superavit que nos permite estar em muito melhores condições para negociar mais investimentos. O novo governo da AD não tem desculpas. Tem tudo para fazer aqui um brilharete.”
Arrumada a economia, Sebastião Bugalho foi confrontado com o voto contra dos eurodeputados do PSD na consagração da interrupção voluntária da gravidez (IVG) na Carta dos Direitos Fundamentais da UE, justificando-o com uma “questão jurídica” e realçando que o facto de não estar consagrado “não impediu nenhuma mulher portuguesa de ter acesso à IVG”. “Nesta governação não haverá um único retrocesso dos direitos das mulheres”, sublinhou.
Marta Temido acusou Sebastião Bugalho de se esconder “atrás de um argumento jurídico”, no que foi secundada por Catarina Martins, que não deixou escapar a oportunidade de lançar uma farpa à AD, devido a declarações do lado do CDS durante a campanha. “Paulo Núncio deicdiu que era bom pôr obstáculos às mulheres que decidissem pela IVG. É um ataque aos direitos das mulheres.”
“A delegação do PPE [grupo do Parlamento Europeu a que o PSD pertence] vai defender os direitos das mulheres”, reforçou Bugalho. “O primeiro-ministro comprometeu-se a defender esse direito. A IVG também não está na Constituição Portuguesa e isso não impede as mulheres de lhe acederem”, rematou.
O candidato do PAN, por sua vez, usou o aborto para falar da violência doméstica (“Morrem três mil mulheres”) e para criticar “o discurso de ódio contra LGBTI e pessoas racializadas”. “Temos de trazer para cima da mesa os direitos destas pessoas.”
O último tema do debate foi a corrupção, com Catarina Martins a atacar a regularização do lóbi nas instituições europeias. “É pôr a raposa dentro do galinheiro.” Além disso, continuou, “o buraco negro do dinheiro da corrupção são as offshores, e a maioria estão na UE”.
Neste campo, Fidalgo Marques discordou de Catarina Martins, lembrando que os sindicatos também fazem lóbi e defendendo “transparência e um período de nojo”.
Sebastião Bugalho, que acabou o debate com cerca de dois minutos a mais do que cada um dos outros três participantes, assegurou ser “contra a existência de regimes onde não haja transparência fiscal”, recordando o “trabalho de Lígia Pereira”, eurodeputada do PSD, neste domínio.