O chefe de Estado falava na cerimónia de apresentação do livro de Carlos Moedas intitulado “Liderar com as Pessoas, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Marcelo defendeu que no país existem “duas tradições muito diferentes: uma tradição de ligação às raízes e uma tradição muito forte de estrangeirados”, considerando que “uns e outros foram importantes para saltos da História de Portugal”.
“O que eu penso que é uma característica muito específica do engenheiro Carlos Moedas é que faz a fusão entre as duas tradições. Começou na ligação às raízes, depois transformou-se num estrangeirado, e regressou às raízes. E funde as duas realidades, o que é muito raro na política portuguesa”, considerou o Presidente da República sobre o antigo comissário europeu.
Marcelo continuou, dizendo que Carlos Moedas faz “uma síntese muito rara na cena política atual entre estas duas linhagens” e concluiu: “Isso torna-o um político dos mais sofisticados da cena nacional”.
O chefe de Estado elogiou “a rapidez” com que Moedas “conheceu ou aprendeu Lisboa” sem esquecer “o mundo e a Europa”.
“Dará certo em todos os planos da sua atividade no presente e no futuro? Eu espero viver o suficiente para ver como é que se desdobra essa proficiência na fusão das duas linhagens”, confessou.
Numa sala repleta de figuras da direita nacional, desde o antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, a ex-presidente do PSD Manuela Ferreira Leite, o antigo primeiro-ministro e fundador social-democrata Francisco Pinto Balsemão, e vários ministros do atual governo minoritário PSD/CDS-PP, Marcelo lembrou que há poucos dias esteve na mesma sala na apresentação do livro de memórias do histórico socialista Manuel Alegre.
“Estive aqui no lançamento do livro do Manuel Alegre e pensei que isto é o 25 de Abril, é a liberdade e a democracia, porque na altura a sala estava cheia, cheia, cheia de esquerda agora está cheia, cheia, cheia de direita”, notou, tendo sido aplaudido pelos presentes.
Marcelo considerou que estão em causa dois livros diferentes.
“O livro de Manuel Alegre era um livro de memórias de toda uma vida. Ainda terá muito para viver, mas é já uma longuíssima vida. E tratava-se de coroar uma carreira”, salientou.
No caso do livro de Carlos Moedas, Marcelo afirmou que “certamente não é a coroação de uma carreira”.
“E eu no momento em que estava com Manuel Alegre tinha a exata noção de qual era a meta futura – e Deus queira que longínqua – para um poeta, que é o firmamento. Para o engenheiro Carlos Moedas ainda está longe o firmamento, mas está relativamente próxima uma meta, ainda que longínqua, e isso é visível na escolha do prefaciador Emmanuel Macron [presidente francês]”, sublinhou.
Marcelo apontou que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, “não foi escolher nenhum grande autarca francês, nem nenhuma figura do urbanismo ou dessas realidades mais ou menos sofisticadas, mesmo cosmopolitas” para prefaciar o seu livro, “foi nem mais nem menos escolher um chefe de Estado europeu”.
“Portanto ficamos a saber: onde para o poeta é o firmamento, para o engenheiro Carlos Moedas é Emmanuel Macron”, sugeriu.
Momentos antes, na apresentação do livro, o presidente da autarquia da capital, Carlos Moedas, foi entrevistado pelo jornalista e comentador Sebastião Bugalho.
Interrogado sobre se defende que a forma de impedir extremos políticos é integrá-los nas instituições, Moedas rejeitou esta hipótese.
“Penso que historicamente isso nunca funcionou muito bem. Ao incluirmos os extremos os extremos comem-nos”, defendeu.
Moedas afirmou que tem medo “da extrema-esquerda e da extrema-direita” e considerou que “hoje o mais difícil é ser um político moderado”.
Sobre a governação de Pedro Passos Coelho, nomeadamente no período da ‘troika’, no qual assumiu funções como secretário de Estado Adjunto do então primeiro-ministro, Moedas salientou que “foi um momento muito, muito duro”.
Na opinião de Carlos Moedas, “não poderia ter havido outro governo a fazer aquilo naquela altura, nem a ter a capacidade que Passos Coelho teve”.
ARL // JPS