No mesmo dia em que o juiz de instrução decretou as medidas de coação na Operação Influencer, a 13 de novembro do ano passado, Luís Neves, diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ), que não tinha sido chamada para a investigação, foi das primeiras pessoas com quem Lucília Gago conversou, intrometendo-se no reduzidíssimo círculo mais próximo da procuradora-geral da República (PGR), até então constituído, segundo várias fontes do Ministério Público, apenas por uma pessoa: o seu chefe de gabinete, o procurador da República Sérgio Pena.
Isolada no Palácio de Palmela, em Lisboa, Lucília Gago tornou-se, nos últimos meses, a “dona disto tudo”, derrubando, de uma assentada, dois governos: o da República e o Regional da Madeira. Mas, ao contrário do que se possa pensar, a PGR cultivou, de acordo com vários relatos recolhidos pela VISÃO na última semana, um grande distanciamento em relação à máquina do Ministério Público, não demonstrando muito interesse pelas investigações criminais em curso, sobretudo aquelas que poderiam incendiar o espaço público ou, em linguagem jurídica, causar alarme social. “Só queria saber de violência doméstica e menores”, contou um antigo membro do Conselho Superior do Ministério Público (CSMP), descrevendo a sua relação com diretores de departamentos como “sempre muito formal”. “No passado”, continuou o mesmo interlocutor, com Joana Marques Vidal, ex-PGR, “havia reuniões na Procuradoria com os diretores de departamento e com os magistrados que estavam com os processos”. “Alguns saíam de lá com as orelhas a arder”, contou o mesmo interlocutor, referindo-se, por exemplo, ao procurador Rosário Teixeira e aos vários “raspanetes” que Joana Marques Vidal lhe deu por arrastar a investigação da Operação Marquês.