Dois retângulos – um verde e outro vermelho – separados por uma bola amarela são a nova imagem da República Portuguesa. Para trás ficaram os sete castelos, as cinco quinas, as chagas e a esfera armilar, sob pretexto da criação de uma imagem mais “inclusiva, plural e laica”, capaz de “responder de forma mais eficaz aos novos contextos, determinados pela sofisticação da comunicação digital, dinâmica e por uma consciência ecológica reforçada”, defende o Governo. Uma justificação que não colhe junto de todos, apesar da imagem estilizada estar há meses nas plataformas digitais do Executivo.
As criticas têm subido de tom nos últimos dias, com a direita conservadora, nomeadamente, o CDS e o Chega, a acusarem o Governo de estar a destruir um pedaço de história nacional. À VISÃO, Nuno Melo sublinha que a “bandeira é um símbolo nacional que tem um significado identitário de uma nação e de um povo, não é apenas um aspeto estético”, por isso, o líder do CDS considera que “reduzir a esfera armilar, que traduz o trajeto de Portugal no mundo, a um elemento circular amarelo é ridículo e um apoucamento quase criminoso”.
“A nação transcende o Executivo que é sempre transitório”, acusa Nuno Melo, sintetizando as criticas dirigidas ao Governo por ter alterado a representação da República Portuguesa.
O Executivo, no entanto, não considera que as alterações feitas constituam um redesenho da bandeira nacional. Apenas pertendem “responder de forma mais eficaz aos novos contextos, determinados pela sofisticação da comunicação digital e dinâmica e por uma consciência ecológica reforçada”, esclarece-se no Manual de Aplicação da Identidade Visual do Governo, acrescentando-se que a imagem anterior era “visualmente densa” e assim “otimiza-se o desempenho em ecrã”.
Trata-se de uma reinterpretação: “Nesta marca são conservadas, nas mesmas proporções
e posicionamento, o verde e o vermelho da bandeira republicana. A esfera armilar é reconfigurada de forma sintética num elemento circular amarelo. Simplifica-se assim uma configuração visualmente densa, otimizando-se o desempenho em ecrã. Sendo omnipresente na administração pública, e devendo sê-lo também na comunicação pública da ação governativa, esta imagem torna-se mais operativa, ao mesmo tempo que reserva e preserva a bandeira nacional enquanto símbolo de Portugal”, pode ler-se no documento, onde é também defendido que o novo designe é mais “inclusivo, plural e laico” e sugere uma “consciência ecológica reforçada”.
O projeto foi desenvolvido pelo designer e professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Eduardo Aires, que assinou também, por exemplo, a renovação da identidade visual da cidade do Porto. E teve um custo de 74 mil euros para o Estado, de acordo com o contrato publicado no Portal Base, a 23 de novembro de 2022.