O grupo liderado por Renata Cambra, que reclama o controlo do Movimento Alternativa Socialista (MAS), decidiu avançar com uma queixa-crime contra André Pestana, Gil Garcia, Daniel Martins, João Pascoal e Flávio Ferreira, “por falsas declarações ao Tribunal Constitucional e abuso de confiança relativamente ao uso dos meios de comunicação e gestão financeira do partido”, anunciou em comunicado.
Recorde-se que as divergências terão começado no dia 11 de março, quando a Comissão Nacional do MAS chumbou – por 6 votos contra 5 – a proposta para uma estratégia que passava pela eventual ligação (ou coligação) do partido com o movimento Juntos Vamos Mudar, criado por professores, que pretendem transpor as lutas do setor para o espectro político-partidário, e alcançar representação parlamentar. André Pestana, que, nos últimos meses, tem sido o rosto do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP), seria o nome em cima da mesa para avançar numas futuras eleições.
Na sequência desta votação, iniciou-se um braço-de-ferro entre o “histórico” Gil Garcia e Renata Cambra, com ambos a reclamarem serem oslegítimos líderes da organização, formada em 2013, na sequência da saída dos movimentos Ruptura e Frente da Esquerda Revolucionária (FER) do BE.
A fação de Renata Cambra (que conta com Ângela Lima, Bruno Cancelinha, Joana Silva, Nuno Geraldes e Vasco Santos) considera que os adversários internos “lidaram mal” com o resultado da votação, passando a “questionar a legitimidade” do órgão e dos seus representantes. E acusa estes elementos de “tentarem utilizar o MAS para criarem um novo partido político”. “Não se importam, sequer, de destruir o MAS”, sublinha. A cabeça de lista do partido, nas legislativas de 2022, acusa Gil Garcia de ter “cortado”, ao membros da Comissão Nacional eleitos em Congresso, o acesso à sede, contas bancárias e passwords dos e-mails e das redes sociais.
Já o bloco de Gil Garcia (que conta com André Pestana, Daniel Martins, João Pascoal e Flávio Ferreira) acusa Renata Cambra de “um esquerdismo infantil que quer, apenas, manter o MAS como um partido marginal”. “[A Renata Cambra] diz que queremos utilizar o MAS como ‘barriga de aluguer’ para um novo partido político, mas isso é uma falácia. Ela devia dedicar-se a lutar contra a extrema-direita, mas toda a sua raiva é dirigida a André Pestana, porque, alegadamente, ele queria ser deputado. Quem me dera ter dez ‘André Pestanas’ no Parlamento”, refere.
Na nota divulgada, esta quinta-feira, o grupo de Renata Cambra afirma que, “chegados a este ponto, tendo o grupo minoritário de ex-dirigentes demonstrado ser incapaz de reverter o seu rumo antidemocrático e destrutivo, vemo-nos obrigados a proceder legalmente, de forma a reavermos o MAS. Entre as testemunhas contam-se Renata Cambra, porta-voz do partido e cabeça de lista nas Legislativas de 2022, Vasco Santos, cabeça de lista nas Europeias de 2019, e António Grosso, atual representante legal do partido”. Leonor Caldeira, vencedora do prémio Nelson Mandela 2022, será a advogada que vai representar Renata Cambra.
A guerra interna também já chegou ao Tribunal Constitucional. O vazio sobre a liderança do partido pode, eventualmente, resultar na impossibilidade do MAS manter a sua atividade. As duas partes já admitiram, aliás, este cenário.