Há cerca de 35 anos, a equipa Irmãos Forasteiros subiu ao palco do Teatro Municipal de Almada para ser distinguida com um galardão literário. Ana, João e Pedro Mendes ficaram em primeiro lugar na competição, graças a um conto inspirado, entre outras influências, no culto local a Nossa Senhora do Bom Sucesso. Na plateia, António, o quarto irmão – e o mais novo –, tinha razões para se mostrar sorridente: era ele o verdadeiro autor da narração vencedora e só não colocara o seu nome na capa porque não contava com a idade mínima imposta pela organização daquele concurso. A partir de então, o atual secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro parece ter convivido sempre bem com o facto de estar permanentemente na sombra do sucesso. Desde o momento em que levou para a política ativa a irmã, a ministra adjunta Ana Catarina Mendes, até à negociação com os diversos atores económicos que permitiu a implementação do IVA zero, passando por diversas medidas fiscais, que aliviaram a vida dos trabalhadores independentes, e a conquista pelo PS de diversos bastiões comunistas na Margem Sul, António Mendonça Mendes tem evitado reivindicar os louros sob os holofotes – mesmo que seja a ele que, agora como braço direito de António Costa, muitos atribuem a mudança nas intervenções do primeiro-ministro, nos momentos mais delicados que o Governo socialista tem enfrentado nos últimos meses.
Será esta uma estratégia para que, dentro de pouco tempo, passe a fazer parte do denominado grupo de “delfins”, potenciais candidatos à sucessão de Costa? Quem o conhece há muitos anos contraria tal tese, mas são-lhe gabados o “brilhantismo”, o “sentido de oportunidade” e a “pedalada”, que lhe “permitirão chegar aonde quiser” na política. “É alguém que ascendeu pela sua capacidade técnica, pela sua inteligência emocional, e que pode ter um papel fulcral para o País, mesmo depois de o António Costa deixar as funções de secretário-geral do PS”, vaticina Ricardo Mourinho Félix, ex-secretário de Estado adjunto e das Finanças, agora vice-presidente do Banco Europeu de Investimento, que se lembra do momento em que António Mendonça Mendes foi presenteado com uma trotinete, por funcionários do Ministério das Finanças, quando era secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, porque tem por hábito mover-se em Lisboa ora naquele meio, ora de bicicleta. Aliás, foi de trotinete que chegou à convenção autárquica do PS, no Pavilhão Carlos Lopes, em 2017.