Aproximamo-nos do local, vagamente bucólico, por veredas arborizadas. Pequenas povoações, de onde se destacam os campanários pontiagudos das características capelas alemãs, bordejam as estradas secundárias que circundam Bad Münstereifel, nos arredores de Bona, na Alemanha (antiga República Federal Alemã). Foi ali, numas discretas instalações, cedidas pela Fundação Friedrich Ebert, ligada ao SPD alemão, que, entre 17 e 19 de abril de 1973, Mário Soares (do núcleo da Ação Socialista Portuguesa – ASP – no exterior e exilado em Paris), a sua mulher, Maria Barroso (do núcleo interior, ou seja, baseado em Portugal, da mesma ASP), e mais 25 magníficos fundariam o Partido Socialista (PS). Maria Barroso, não se impressionando com o discurso do marido, que pretendia a transformação da ASP em partido político, votou contra – e foi vencida. As autoridades da esclerosada ditadura portuguesa, agora dirigida pelo presidente do Conselho (primeiro-ministro) Marcello Caetano (sob a tutela vigilante e cada vez menos decorativa do Presidente da República, almirante Américo Tomás, um ortodoxo que sempre desconfiara dos tiques liberais de Marcello), mostravam alguma (pouca) tolerância relativamente a associações cívicas. Porém, reprimiam duramente os partidos, proibidos por lei. Os riscos para os militantes residentes em território nacional aumentariam, mas Mário Soares conseguiu convencer vários deles, com a sua argumentação: o regime, internacionalmente isolado, estava em estado terminal, fragilizado pela Guerra Colonial. E era necessário um partido forte, que se posicionasse como alternativa à única força política até então organizada, o PCP, fundado em 1921.
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