Este estudo, intitulado “Participação política juvenil em Portugal: Resultados de um inquérito ‘online’ e de grupos de discussão com jovens”, foi desenvolvido por investigadores da Universidade Católica do Porto para o Conselho Nacional de Juventude (CNJ).
Segundo o estudo, num total de 931 jovens inquiridos, 89,6% declararam já ter votado “em algum momento da sua vida”.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do CNJ, Rui Oliveira, considerou que este dado permite “afastar a perceção de que os jovens estão desligados e não participam na vida política”.
“Este valor, dos nove em cada dez, vem-nos demonstrar que, nesta questão concreta do voto (…), eles continuam a ir votar e a ter essa participação”, afirmou.
Segundo o estudo, dentro do universo dos jovens que já votaram, 81,8% foram às urnas no âmbito das eleições legislativas, 79,1% nas autárquicas, 76,6% nas presidenciais e apenas 45,6% nas europeias.
À Lusa, as investigadoras da Universidade Católica Raquel Matos e Mónica Soares – respetivamente, coordenadora e uma das autoras do estudo – indicaram que, para os jovens, “quanto maior a perceção de que a eleição terá impacto na sua vida e na sua comunidade, maior a probabilidade de a ida às urnas se efetivar”.
Apesar de não terem perguntado aos jovens em quem votaram, as duas investigadoras realçaram, contudo, que, em termos de posicionamento político, 46% dizem alinhar-se à esquerda, 33,6% ao centro e 20,4% à direita.
As investigadoras referiram que este posicionamento político não tem impacto em termos de ida às urnas, mas sim “noutras formas de participação política, nomeadamente em partidos e participação em campanhas”.
“Os jovens que se posicionam politicamente à direita são os que mais referem pertencer a partidos e participar em campanhas. Neste grupo, 29% dos jovens pertencem a partidos, enquanto no grupo que se alinha à esquerda, essa percentagem desce para 15,5%”, explicaram.
Apesar destas diferenças consoante o posicionamento político, o estudo destaca, contudo, uma tendência comum: o afastamento dos jovens tanto da militância partidária como sindical.
Segundo o estudo, 34,7% dos jovens participam em associações, mas essa percentagem baixa para 22,7% no que se refere a campanhas eleitorais, 17,5% para partidos políticos e 2,4% para sindicatos.
Para o presidente do CNJ, esta falta de militância explica-se pelo facto de os jovens “não gostarem da parte burocrática e demorada” daquele tipo de entidades, a que acresce ainda, segundo Raquel Matos e Mónica Soares, uma “evidente falta de formação dos jovens sobre o funcionamento dos partidos e dos sindicatos”.
“Em consequência, não raras vezes veem estas estruturas como desatualizadas e apresentam ideias erradas acerca de para que servem e como operam. Isto poderá contribuir também para um afastamento contemporâneo dos jovens em relação aos partidos políticos e aos sindicatos”, referiram as investigadoras.
O presidente do CNJ considerou que estes indicadores sobre a militância em partidos ou sindicatos mostram precisamente que os jovens pretendem que a forma como participam na vida política “seja realmente diferente”.
Por outro lado, Rui Oliveira abordou também os resultados do estudo que indicam que as redes sociais já se tornaram “o meio de comunicação mais utilizado pelos jovens” para a participação política, ultrapassando a televisão, frisando que se trata de uma “alteração clara” relativamente a comportamentos antigos.
“Acho que nós não fizemos essa adaptação para muitos desses comportamentos que os jovens têm hoje, e esse, para mim, é das principais reflexões que nós temos que fazer rapidamente para não afastar os jovens”, sublinhou.
Perante esta constatação, Rui Oliveira frisou que o CNJ vai reunir-se com as suas organizações membro, a que pertence designadamente a JS, JSD ou JCP, mas também a Comissão de Juventude da UGT ou a Interjovem/CGTP-IN, para analisar o estudo.
“Vamos reunir-nos, apresentar os dados e fazer uma reflexão com elas e com o conjunto das organizações que não são diretamente da área para apresentar soluções, caminhos, para tomar uma posição e pensar sobre estas questões”, sublinhou.
O estudo foi feito com base num inquérito ‘online’ que envolveu 931 jovens dos 18 aos 30 anos e que foi realizado entre 23 de fevereiro e 31 de maio de 2022.
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