No primeiro dia de janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa desejou que 2022 fosse o ano de “virar a página”, “fechar o capítulo da pandemia” de Covid-19 e começar uma “vida nova”. No entanto, a página seguinte não trouxe menos dores de cabeça ao Presidente da República, que, mesmo com a guerra na Ucrânia e a crise económica, conseguiu virar os holofotes todos para si em várias ocasiões – e não pelas melhores razões. Posou com Bolsonaro à frente de uma bandeira do Brasil adulterada com as expressões “Brasil sem aborto”, envolveu-se numa teia de declarações confusas a propósito da investigação aos alegados abusos sexuais na Igreja Católica e foi acusado de desrespeitar a campanha de sensibilização sobre a violação de direitos humanos no Qatar.
Católico convicto, o Chefe de Estado passou por um dos momentos mais complicados da sua “magistratura de influência” nos últimos seis meses, revelando dificuldades em manter-se apenas como espectador dos desenvolvimentos na investigação da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja. Melindrou a opinião pública com uma aparente desvalorização das 424 queixas que a já mencionada comissão recebeu, até outubro, e alertou o bispo José Ornelas de que estava a ser investigado. Conclusão: nem os pedidos de “transparência” nem as desculpas às vítimas libertaram Marcelo da confusão lançada pelas suas sucessivas declarações e das críticas ao excessivo envolvimento do Presidente, que encontraram novamente eco na opinião pública este mês, por outro motivo.