No espaço de dois meses, uma antiga assessora de Manuel Pizarro na Câmara do Porto e no PS distrital fundou uma empresa de comunicação e ganhou dois ajustes diretos: um com a administração dos portos de Leixões, Porto e Viana do Castelo, o segundo com a Ordem dos Nutricionistas, liderada por Alexandra Bento, companheira do atual ministro da Saúde. A empresa “Media Tailors” deu os primeiros passos na mesma morada da sociedade “Manuel Pizarro, Consultadoria Lda”: o nº360 da Avenida das Congostas, no Porto.
Designada no mercado por “Media Tailors”, a agência de comunicação fundada por Dalila Rodrigues Teixeira – assessora de Manuel Pizarro na Câmara do Porto, no PS local e também no Parlamento Europeu – e Filipa Santos Guimarães foi criada a 18 de outubro de 2017, com o nome “Rodrigues Teixeira&Santos Guimarães, Lda”, (entretanto, em julho desta ano, alterou o nome para “Alfaiates de Comunicação, Lda”) duas semanas após as eleições autárquicas, nas quais Manuel Pizarro foi candidato pelo PS à câmara do Porto, ficando em segundo lugar, atrás de Rui Moreira. O capital social, 100 euros, foi subscrito em partes iguais pelas sócias.
A 22 dezembro do mesmo ano, surgiu o primeiro ajuste direto com a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo: 36 mil euros mais IVA, pagos em prestações de três mil euros mensais durante um ano. O contrato, refira-se, teve uma aprovação em tempo recorde: a proposta da empresa foi apresentada dois dias antes da assinatura do acordo, como se lê no texto.
No final do mesmo mês, a agência de comunicação celebrou um contrato de “prestação de serviços de assessoria de imprensa” com a Ordem dos Nutricionistas: 18 mil euros, pagos em 12 prestações mensais de 1500 euros. Um ano mais tarde, a Ordem dos Nutricionistas renovou o contrato de assessoria meditaria por mais 365 dias com os mesmo valores.
A empresa, segundo informações recolhidas pela VISÃO, também terá celebrado um contrato de prestação de serviços com a Secção Regional do Norte das Ordem dos Arquitectos (SRNOA), então liderada por Cláudia Costa Santos, eleita deputada municipal pelo PS nas autárquicas de 2017. Porém, apesar da “Media Tailors” indicar a SRNOA como um dos seus clientes, não existem registos de qualquer contrato no portal “Base”.
Questionado pela VISÃO se teve algum tipo de influência nos contratos celebrados pela empresa da sua assessora de comunicação, o atual ministro da Saúde, através do gabinete de imprensa do ministério, começou por garantir não ter tido “qualquer relação comercial com a empresa ´Media Tailors, Agência de Comunicação”.
Manuel Pizarro acrescentou ainda que “uma das sócias da mesma empresa”, Dalila Teixeira, “trabalhou a título pessoal como assessora da campanha autárquica no Porto, em 2017, e foi assessora no Parlamento Europeu entre julho de 2019 e junho de 2022”.
Certo é que, entre 2016 e junho de 2019, Dalila Teixeira também trabalhou para a Federação Distrital do PS/Porto como assessora de comunicação, como se pode verificar no respetivo relatório de atividades. E, umas semanas antes das Eleições Europeias de 2019 a 26 de maio, a Media Tailors foi contemplada com mais um ajuste direto para consultadoria: desta vez com a empresa municipal de habitação de Matosinhos, a Matosinhos Habit. Valor: 3000 euros por 60 dias de consultadoria.
Os negócios de Manuel Pizarro
Esta semana, o ministro da Saúde renunciou ao cargo de sócio-gerente da sociedade “Manuel Pizarro, Consultadoria, Lda”, uma vez que a lei determina o exercício em exclusividade da função ministerial.
Em 2021, a empresa registou um EBITA (sigla em inglês para “Earnings Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization”, que significa “Lucros antes de Juros, Impostos, depreciações e Amortizações”) negativo de um pouco mais de 10 mil euros, contrastando os resultados positivos que apresentou entre 2018 e 2020, sendo que o principal ativo será a loja no número 360 na Avenida das Congostas. Apesar de figurar como sócio-gerente, na declaração de interesse entregue no Parlamento Europeu, depois de ter sido eleito em 2019, Manuel Pizarro indicou que esta atividade não era remunerada.
Além da consultadoria, Manuel Pizarro aventurou-se, em 2015, no imobiliário através da sociedade “Azevedo&Sampaio Castro, Lda”, que tinha por objeto a “compra e venda e arrendamento de bens imobiliários, locação de apartamentos turisticos sem restaurante, alojamento mobilado par turistas de curta duração, turismo rural, agroturismo e turismo de aldeia”. A aventura com o sócio Joel Ferreira de Azevedo, nomeado este ano para a administração do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH), terminou a 31 de dezembro de 2020 com a dissolução da empresa.