A poucos dias da entrega do Orçamento do Estado para 2023, o coro de vozes do Governo continua a desafinar quando o tema versa a política fiscal a adotar para combater a crise. Já depois de o Executivo de António Costa ter apresentado pacotes financeiros de auxílio destinados às famílias e empresas, o ministro da Economia, António Costa Silva, voltou a ir além do discurso oficial, lançando para o debate novas “soluções” que arriscam contrariar convicções assumidas no interior do Governo e do próprio partido.
No passado domingo, 18, em entrevista à TSF, Costa Silva admitiu que as empresas portuguesas “não estão preparadas” para uma taxa sobre lucros excessivos, contrariando uma ideia que o próprio tinha colocado em “cima da mesa” no mês de abril, e que ainda na semana passada foi defendida pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sendo bem recebida por figuras do PS como Carlos César, Pedro Marques ou Alexandra Leitão. Nesse mesmo dia, o ministro da Economia avançou ainda com a possibilidade de o Governo optar, já no próximo ano, por um “choque fiscal”, através de uma redução “transversal” da taxa do IRC (rendimento de pessoas coletivas), ultrapassando aquilo que está previsto no programa do Governo, que apenas refere uma “redução seletiva do IRC”. “Hoje, face à crise que temos, penso que seria extremamente benéfico termos essa redução transversal [do IRC] e, a partir daí, ver qual é o impacto que pode ter no futuro”, disse Costa Silva à margem de uma visita às empresas portuguesas que participam na feira de calçado MICAM, em Milão, Itália.