Sérgio Figueiredo, ex-administrador da Fundação EDP e antigo diretor de informação da TVI, abandonou o gabinete do ministro das Finanças, para onde ia trabalhar como consultor estratégico a analisar o efeito das políticas públicas, ainda antes de ter iniciado funções. Não resistiu à pressão pública, após a chuva de acusações de que foi alvo e que questionaram desde a adequabilidade do seu currículo para ocupar o cargo, até a um possível favorecimento – por ter dado a Fernando Medina um espaço de opinião na TVI quando era diretor na estação de televisão de Queluz -, passando pela polémica em torno do seu salário, alegadamente superior ao do governante.
Uma a uma, todas estas acusações foram rebatidas por Sérgio Figueiredo, nesta quarta-feira, numa carta publicada no Jornal de Negócios, diário económico do grupo Cofina do que qual chegou a ser diretor também. Sobre a questão salarial escreveu: “O ministro das Finanças, como qualquer titular de cargo político, tem naturalmente direito a subsídios e despesas de representação permanentes. Algo que um consultor externo não tem, como também é normal. No meu caso, foi-me fixado um valor que deliberadamente ficava abaixo das remunerações do ministro. O valor da minha avença era cerca de 77% daquilo que o Estado paga ao ministro que gere as suas Finanças – ao contrário, aliás, do que já aconteceu noutros casos idênticos”.
Quanto ia afinal ganhar Sérgio Figueiredo e qual o montante que recebe Medina?
Segundo a minuta do contrato divulgada pelo Ministério das Finanças, Sérgio Figueiredo receberia por ano 69 995 euros brutos. O que representa mensalmente um ordenado ilíquido de 5 833 euros – se as contas forem feitas a 12 meses – ou de 4999,6 euros, se forem a 14 (com subsídios de férias e de natal) para efeitos de comparação com o do ministro.
Medina ganha 4 768,40 euros mensais, a que acrescem 2 mil euros em despesas de representação. Sérgio Figueiredo iria ganhar 4 999,6 euros
Já Fernando Medina leva para casa, num ano, 90 850,60 euros, esclareceu o gabinete do ministro das Finanças à VISÃO. Sendo que este valor inclui despesas de representação e outros extra. Se as contas forem feitas apenas com base no ordenado base do responsável pela pasta das Finanças, então Medina aufere 66 757,60 euros anuais, 4.768,40 euros, distribuídos por 14 meses – valor que compara com os 4999,6 euros oferecidos ao ex-jornalista.
Acresce que o ministro recebe todos os meses 2 007,75 euros em despesas de representação, o que perfaz um total de 24 093 euros durante 12 meses. O que resulta nos tais 90 850,60 euros.
CONCLUSÃO:
ENGANADOR
Se a contratação de Sérgio Figueiredo se tivesse verificado, o consultor não receberia da tutela mais dinheiro ao final do mês do que aquele que entra na conta de Fernando Medina. No entanto, a afirmação de Figueiredo é enganadora, na medida em que isto só aconteceria porque o ministro recebe despesas de representação. Se for tido em consideração apenas o ordenado base do ministro, o consultor receberia mais proporcionalmente.