Venezuela vivia a ferro e fogo, devido à crise política que desencadeara violentas manifestações, em 2019. Havia barricadas a favor e contra o regime de Nicolás Maduro. Alguns portugueses detidos pelas autoridades locais seriam visitados pelo governo de Lisboa, que levava a garantia de que tudo seria feito para a sua libertação. No regresso ao aeroporto, em plena noite cerrada, uma chuvada tropical abateu-se sobre a viatura oficial, que teria de atravessar um túnel numa montanha. A comitiva da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas perdeu-se num cruzamento e, quando deu por si, acabara de ir ao encontro de um dos bairros mais problemáticos de Caracas. A delegação nacional viu a vida a andar para trás. Mas José Luís Carneiro, então com a responsabilidade política de ouvir quem vive lá fora, manteve no grupo uma “calma invulgar, racionalidade e pragmatismo” – qualidades que os mais próximos, como Júlio Vilela, então membro do gabinete e hoje embaixador na Suíça, acreditam ter sido algumas das que levaram António Costa a apostar no seu nome para ministro da Administração Interna.
Aos 50 anos, o antigo autarca que terá revolucionado Baião, um concelho nos socalcos do Douro, recebeu do primeiro-ministro aquela que é vista como a cadeira mais desconfortável para os seus titulares, por reunir numa só pasta áreas tão complicadas como a Proteção Civil. Mas também é uma das que mais reformas estruturais exigem neste momento, como a extinção do SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. E aí estão os seus antecessores para o comprovar, a começar pelo último, Eduardo Cabrita, que, apesar dos quase cinco anos no cargo, se arrastou em sucessivas polémicas até exaurir o capital político com que chegara ao Terreiro do Paço, na senda da demissão de Constança Urbano de Sousa.
Passou pela docência e jornalismo antes de altos voos na política. Com obra em Baião, deu provas como secretário de Estado e terceira figura do PS