António Costa terá sido “apanhado de surpresa” e ficou “furioso” com a publicação do despacho sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa. Embora o primeiro-ministro conhecesse o plano, o dossier ainda não estava fechado, confirmou fonte próxima do Governo à VISÃO. Assim, o gabinete de Costa emitiu um comunicado, esta manhã, a desautorizar o ministro das Infraestruturas, revogando o documento publicado em Diário da República. Perante esta situação, António Costa – que ainda não se pronunciou publicamente – considera que o ministro já não reúne condições para se manter no cargo (por iniciativa própria ou não). Pedro Nuno Santos terá o tempo contado no Governo. Recorde outros casos semelhantes, que acabaram em saídas do Governo.
João Soares. Duas bofetadas, para ti. Um puxão de orelhas, para mim
O antigo ministro da Cultura de António Costa demitiu-se em 2016, depois de ter escrito, no Facebook, que estava a dever “duas bofetadas salutares” ao crítico Augusto M. Seabra e ao historiador Vasco Pulido Valente. Algumas horas depois, João Soares veio pedir desculpa pelo seu comportamento e garantir que é um “homem pacífico”, mas o primeiro-ministro não pôde ficar indiferente à situação e reforçou os lamentos, considerando que os ministros “têm de se lembrar sempre que são membros do Governo”. “Nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo”, reforçou António Costa, na altura, recusando-se a responder se mantinha a confiança em Soares. O responsável pela Cultura viria a demitir-se “por razões que têm a ver com o meu respeito pelos valores da liberdade”.
Vítor Gaspar. À terceira, a saída “inadiável”
Pediu a demissão três vezes, mas só em julho de 2013 a concretizou: “A minha saída é agora, permito-me repetir, inadiável”. Vítor Gaspar, ministro das Finanças de Passos Coelho, ficou conhecido como o “arquiteto da austeridade” por ter dado a cara pelo programa da “Troika”, mas na hora da despedida não poupou nas criticas à coesão interna do Governo, dizendo ainda que estava a aliviar o “fardo da liderança” a Passos.
Manuel Pinho. O gesto “injustificável” que levou a uma demissão imediata
Dois dedos a imitar chifres. O gesto utilizado pelo antigo ministro da Economia de José Sócrates em pleno debate do Estado da Nação, em 2009, levou a uma demissão imediata para salvar a imagem do Executivo. Manuel Pinho, sentado na bancada do Governo, simulou dois chifres enquanto o primeiro-ministro respondia a uma pergunta do líder do BE, Francisco Louçã, sobre as minas de Aljustrel, mas Pinho dirigia-se ao deputado comunista Bernardino Soares. A imagem passada em direto no Canal Parlamento foi imediatamente usada para exigir um pedido de desculpas e consequências políticas. Ainda o debate não tinha chegado ao fim, quando Sócrates dirigiu um pedido de desculpas ao hemiciclo, qualificou como “injustificável” a atitude do seu ministro e anunciou a substituição imediata pelo ministro das Finanças.
Henrique Chaves. Faltou-lhe a “lealdade e verdade” do PM
O ministro da Juventude, Desporto e Reabilitação de Santana Lopes deixou o Governo em 2004 e na hora da saída acusou o então primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, de falta de “lealdade e de verdade”, responsabilizando-o pela sua demissão. “Convidado para Ministro Adjunto, nunca me foi dada oportunidade de exercer qualquer função ao nível da coordenação do Governo, própria das funções inerentes a esta pasta”, explicou. Chaves era considerado, até pessoalmente, um dos ministros mais próximos de Santana, pelo que os motivos invocados atingiam pessoalmente o primeiro-ministro, pondo a nu o desnorte do Executivo. Foi a gota de água para que o Presidente Jorge Sampaio tivesse tomado a decisão de dissolver a Assembleia da República, por estar em causa “o regular funcionamento das instituições”, o que arrastou, inevitavelmente, a demissão do Governo.
Manuela Arcanjo. Demitida enquanto falava no Parlamento
A ministra da saúde de António Guterres dava a cara pelo Governo, em pleno debate na Assembleia da República, quando soube pelas televisões que seria remodelada. Enquanto Arcanjo discursava, passavam imagens do primeiro-ministro a deslocar-se a Belém para levar o nome do seu substituto. Indignada, a responsável pela pasta da Saúde convocou uma conferência de imprensa para explicar que tinha apresentado a sua demissão há uma semana por considerar que nunca lhe tinham sido dadas as condições para exercer o cargo, mas, perante o pedido de Guterres para ficar, decidiu cancelar a sua intenção.
Armando Vara. Empurrado para sair por Guterres
As notícias sobre irregularidades na Fundação para a Prevenção e Segurança, criada quando Armando Vara era secretário de Estado da Administração Interna para promover a segurança rodoviária, deixaram o ministro da Juventude de António Guterres debaixo de fogo. Na sequência destas, Vara apresentou a sua demissão, mas, veio a saber-se mais tarde: a iniciativa partiu de Guterres, apertado pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio que exigia consequências e terá mesmo ameaçado o primeiro-ministro de que faria uma declaração pública sobre caso..
Ricardo Sá Fernandes. A pressão sob Costa fez ricochete
Vinte anos depois do acidente de Camarate, que provocou a morte do então primeiro-ministro social democrata, Francisco Sá Carneiro, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e advogado dos familiares das vítimas deste acidente, decidiu reavivar a memória do caso. Numa carta, noticiada pelo Expresso, dirigida ao então primeiro-ministro, António Guterres, pedia que o Governo tomasse uma posição relativamente ao que se havia passado em Camarate, enquanto pressionava António Costa, na altura ministro da Justiça. Ofendido, Costa disse não poder “permitir que a honra do PS e dos socialistas” ficasse “enlameada” e colocou o seu lugar à disposição de Guterres, que não aceitou a demissão. Era um ou outro: acabou por ser Ricardo Sá Fernandes a sair do Governo, em rota de colisão com Costa.
Carlos Borrego. Uma anedota infeliz
O ministro do Ambiente do terceiro Governo de Cavaco Silva foi substituído em junho de 1993 por ter contado uma anedota de mau gosto, durante uma visita a Braga. “Sabem o que é que no Alentejo, em Évora melhor dizendo, fizeram aos cadáveres das pessoas que morreram ultimamente? Levaram-nos para reciclar, para aproveitar o alumínio”, brincou Carlos Borrego, numa alusão aos 22 doentes com insuficiência renal do Hospital de Évora que morreram intoxicados por água contaminada com alumínio no serviço de hemodiálise. O comentário foi considerado um insulto às vítimas, que morreram na sequência de uma falha do SNS sob tutela do próprio Governo a que Borrego pertencia, e obrigou Cavaco Silva a demitir o seu ministro. Chamando-o a São bento, Cavaco disse-lhe, simplesmente: “O senhor ministro, como compreenderá, vai ter de sair.”