Há mais de uma década que os representantes da comunidade ucraniana em Portugal alertavam o Alto Comissariado para as Migrações (ACM) – um organismo na dependência do Ministério dos Assuntos Parlamentares – para a existência de associações (reconhecidas pelo Estado português) de apoio à Ucrânia, mas geridas por russos com ligações ao Kremlin. Os avisos, feitos em reuniões ou por escrito, intensificaram-se em 2014, na sequência da anexação russa da Crimeia, e, novamente, desde fevereiro, quando Putin invade a Ucrânia e o Governo elenca algumas destas instituições na página oficial de ajuda aos refugiados ucranianos.
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Confrontada com esta situação, no final de março, a alta comissária para as Migrações, Sónia Pereira, disse à Renascença que esta entidade não fazia avaliações políticas, apenas técnicas. Mas foi preciso vir a público o caso de Igor Khashin – presidente da Associação dos Imigrantes dos Países de Leste (Edinstvo), com ligações diretas ao Kremlin e que desde dezembro trabalhava na Linha de Apoio aos Refugiados criada pela Câmara Municipal de Setúbal – para desencadear investigações. Segundo o jornal Expresso, Igor Khashin atendeu, em conjunto com a mulher, Yulia Khashina, jurista contratada pela autarquia, 160 ucranianos, fotocopiando documentos e recolhendo informações, incluindo moradas, destes refugiados e dos seus familiares que ficaram no país.