Foram 15 anos, pastas em cinco governos e três primeiros-ministros diferentes: Guterres, Sócrates e Costa. E tudo começou em 1999. “Devo ser a única pessoa que passou da Educação e da Cultura para as áreas da soberania”, crê Augusto Santos Silva, 65 anos, filho de enfermeiros nascido numa família da pequena burguesia urbana do Porto. Na tarde de terça, 29, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros foi eleito presidente da Assembleia da República (AR). Nega ter deixado funções anteriores por desgaste, cansaço ou tédio e é agora a segunda figura do Estado.
Nesta conversa-retrato revisita passagens e bastidores do percurso, onde nunca falta o prazer do confronto de ideias, com picante à mistura. Um diálogo descontraído, humorado e provocador, mas também fiel ao sentido de Estado, com o cientista social, intelectual e político que está longe de meter os papéis para a reforma. “O meu último artigo de sociologia [A arte para lá do contexto: uma abordagem sociológica da singularidade na criação cultural] saiu no ano passado. Tento não perder a mão e começar o dia a ler outras coisas antes dos jornais. Como não durmo nos aviões, escrevo.” Memórias? Não contem com isso.