Pela primeira vez numas eleições, os cientistas políticos encontraram em Portugal um voto feminino mais encostado à esquerda e um masculino mais à direita. Os partidos em que a balança dos géneros ficou mais desequilibrada a pender para as mulheres foi o PAN e a pender para os homens foi o Chega. Os socialistas conquistaram mais de um terço dos votos entre os maiores de 54 anos e dominaram a população menos instruída. Pelo contrário, há mais eleitores licenciados a escolherem forças políticas de direita e os jovens, em geral, preferiram os partidos mais recentes, destacando-se a Iniciativa Liberal.
A análise “Bases Sociais do voto nas legislativas 2022“ dos cientistas políticos João Cancela e Pedro Magalhães foi publicada nesta quinta-feira e baseia-se em dados das eleições legislativas de 2022, recolhidos à boca das urnas pela Pitagórica, que, para além do partido em que votaram, perguntou aos eleitores dos 18 círculos de Portugal continental a idade, o sexo e o grau de escolaridade. O que permitiu aos investigadores chegarem às seguintes conclusões:
PS – Se tivéssemos de fazer um retrato robô dos eleitores do PS este seria uma mulher, com mais de 54 anos, que não completou o secundário. 57% dos votos dos socialistas foram depositados nas urnas por mulheres. Este é também o partido que reúne maior apoio dos eleitores mais velhos e dos portugueses que não terminaram o ensino secundário (55%).
PSD – Os eleitores sociais-democratas são o grupo mais heterogéneo, não se destacando nenhum sexo. As faixas etárias e os graus de educação também são variados, embora a maior fatia dos eleitores (42%) tenha um curso superior e se note alguma perda de terreno nas faixas etárias mais elevadas.
Chega – Tem o dobro dos votos entre os homens e reúne maior consenso em eleitores até aos 54 anos. Os que concluíram a universidade votaram menos no Chega. Todavia, como já vimos anteriormente, também não é o partido que recolhe maior adesão entre as pessoas com menos instrução (é o PS).
Iniciativa Liberal – É o partido com melhor aceitação entre os menores de 25 anos e 49% dos seus votos terão sido de eleitores até aos 34 anos. Soma outro recorde: o da força política com maior desproporção no que diz respeito à educação dos seus eleitores: a maioria (61%) tem uma licenciatura e poucos não completaram o secundários (7%). Teve mais votos de homens do que de mulheres (58%).
CDU – Embora a faixa etária que mais votou na CDU tenha sido os maiores de 54 anos, este estudo não confirma substancialmente a ideia comum de que o eleitorado comunista está muito envelhecido, porque a diferença para a faixa dos jovens adultos não é muito significativa (sete pontos percentuais). É possível ainda ver que é entre as pessoas com menos escolaridade que o partido tem mais votos (36% não terminaram o secundário e 34% não têm uma licenciatura); e não há uma grande diferença entre a quantidade de votos de mulheres (47%) e de homens (53%).
BE – A maioria dos votantes (55%) são mulheres e o partido continua a destacar-se entre os mais jovens (até aos 25 anos). Os bloquistas têm também mais adesão entre as camadas da sociedade com mais estudos – até 2019 era o partido que captava mais os votos destas pessoas; nesta eleições 42% dos seus eleitores têm um curso superior e 22% concluiu o secundário.
PAN – É o partido em que a percentagem de votos das mulheres é mais elevada – 71%. O PAN teve mais aceitação entre os mais jovens, até aos 34 anos, e quase metade dos seus eleitores têm uma licenciatura.
Livre – É um dos partidos onde se nota mais a escolarização dos eleitores – 60% frequentou a universidade. Não apresenta diferenças significativas em relação à idade e ao sexo.
CDS – Os centristas que ficaram pela primeira vez de fora do parlamento, apresentam níveis idênticos de votos quer entre as mulheres, quer entre os homens e tanto vão buscar votos a eleitores com licenciatura como a quem não terminou o secundário.