A divisão entre esquerda e direita remonta aos tempos da Revolução Francesa. Quando Luís XVI abriu os Estados Gerais, em maio de 1789, ouviu as três classes sociais com representação política: o clero, a nobreza e o povo, então chamado de Terceiro Estado. Até então, as reuniões do Terceiro Estado aconteciam em salas distintas das outras e dispunham menos direitos de voto, mas desta vez, os representantes do povo que se juntavam na Assembleia dos Comuns, exigiram não ser ouvidos à parte. Pediram a criação de uma Assembleia Nacional e uma nova Constituição para a França, começaram a reunir-se na sala mais nobre e a recolher dissidentes do clero e depois da nobreza que se juntaram a eles.
Depois da tomada da Bastilha, em julho, a exigência de “um homem, um voto” passa a ser uma das pedras de toque dos revolucionários. Como explica Rui Tavares no livro “Esquerda e Direita, Guia Histórico para o Século XXI”, quando começam as reuniões da Assembleia Constituinte, um dos temas fulcrais foi o direito de veto do rei – defendido pela nobreza e recusado pelo povo. A 28 de Agosto de 1789, dá-se a divisão de águas que perduraria até aos dias de hoje. “Nesse dia, os deputados que eram contra o direito de veto do rei entraram na sala e juntaram-se naturalmente à esquerda do presidente da sessão; os deputados que eram a favor foram para o lado direito. Essa divisão foi notada nos próprios debates, e a 11 de setembro de 1789, quando a Assembleia voltou a reunir-se para discutir o mesmo tema, a divisão permanecia: os opositores do rei dirigiam-se para a direita da sala (mas ficavam à esquerda do presidente e eram, portanto, ‘a esquerda’) e os defensores do rei ia para o lado esquerdo (mas como ficavam à direita do presidente passaram a ser, desde então, ‘a direita’)”, diz o historiador.
Se tudo começou com uma posição na sala e as cadeiras onde se sentavam, rapidamente se percebeu que mais coisas os separavam além do direito de veto do rei: era toda uma visão do mundo e dos direitos do homem que era distinta, era “uma visão múltipla das coisas: do próprio poder ao sentido da História, daquilo que constitui uma nação àquilo que constitui uma noção de direitos”.

Enquanto uns queriam um novo tempo da história da Humanidade (a esquerda), os outros queriam manter, na sua essência, uma continuação do Antigo regime (a direita). “Até a palavra revolução estava em revolução e tinha duplo sentido. Para o primeiro grupo, ela começava a ganhar o sentido que hoje lhe da damos, de um corte definitivo com o passado, o segundo mantinha a sua aceção pré-moderna na qual uma ‘revolução’ era (como nos planetas) o movimento de dar uma reviravolta ara voltar ao normal. Se estes faziam a revolução para voltar à ordem 8e ficaram conhecidos como reacionários), aqueles faziam-na para não voltarem atrás (e ficariam com o monopólio do termo revolucionários)”, lê-se no livro. Outra distinção essencial era a forma como se olhava a desigualdade: enquanto a esquerda defendia a redistribuição, a direita apelava ao direito de propriedade.
Durante o século XIX, em França, esta divisão entre esquerda e direita distinguiu os partidários da República e os defensores da Monarquia, e inspirou uma separação que foi copiada por Assembleias de todo o mundo.
Nos primeiros tempos, a direita tendeu a não incentivar a distinção que via como artificial. Foi sobretudo a esquerda progressista, tentando demarcar-se do que via como conservadorismo de uma certa ala da sociedade e dos agentes políticos, que estimulou a dicotomia esquerda-direita, elevando-a a distinção política primordial da modernidade. Ainda hoje, mantém-se na esmagadora maioria dos Parlamentos, espelhando posições políticas antagónicas.
Nos dias de hoje, há posições que tendem a distinguir a esquerda e a direita. A esquerda assenta na ideia de um Estado com mais presença na sociedade, com maior intervenção de forma a reduzir desigualdades e injustiças sociais, mais regulamentação e impostos, mais liberal nos costumes. Já a Direita acredita que o indivíduo e a iniciativa privada devem ter um papel fundamental na sociedade, defende um Estado mais pequeno, com menor regulamentação e impostos mais baixos, mas também menos serviços públicos e prestações sociais, mais conservadora nos costumes.
Nas últimas décadas, vários movimentos políticos têm vindo a assumir uma narrativa em que tentam colocar-se à margem desta distinção. É o caso de vários partidos e movimentos ambientalistas a alguns liberais, embora uma leitura mais atenta dos seus programas de governo permita, na maioria dos casos, colocá-los mais de um lado ou de outro do espectro político.