“Se as eleições do Benfica fossem hoje [sábado, 19 de setembro], Luís Filipe Vieira ganhava de forma esmagadora. É a conclusão de uma sondagem da Aximage para a TSF e para o JN. A cerca de um mês das eleições encarnadas – e com base neste estudo, que conta com 603 entrevistas – os opositores ainda estão muito longe do atual presidente do Benfica.” Foi desta forma que a TSF noticiou, no fim de semana, as conclusões de um inquérito sobre o sufrágio de outubro, que aponta para uma ampla vantagem do líder encarnado face a Rui Gomes da Silva e João Noronha Lopes. No final, na ficha técnica podia ler-se que “a responsabilidade do estudo é da Aximage Comunicação e Imagem Lda, sob a direção técnica de José Almeida Ribeiro”.
Mas quem é Almeida Ribeiro? Desde maio deste ano diretor técnico da Aximage, detida por Marco Galinha, dono do Grupo Bel – que recentemente entrou no capital da Global Media Group, do qual fazem parte a TSF, o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias e O Jogo -, foi espião do Serviço de Informações de Segurança (SIS) e secretário de Estado Adjunto de José Sócrates. Além disso, há dois anos e meio, conforme a VISÃO noticiou, foi recrutado pelo gabinete de crise criado por Luís Filipe Vieira quando o presidente das águias e o emblema da Luz se viram a braços com várias investigações judiciais e tiveram de lidar com a divulgação de milhares de e-mails internos, que haviam sido pirateados.
Na altura, Luís Bernardo, que foi assessor do antigo primeiro-ministro socialista e que dirige a comunicação do Benfica, admitiu que Almeida Ribeiro estava, de facto, a aconselhar o gabinete de crise e confirmou mesmo a participação do ex-espião numa reunião daquela task force, mas negou “perentoriamente” a existência de qualquer vínculo entre as partes.
Em todo o caso, segundo apurou a VISÃO, apesar de liderar a Aximage e de até produzir sondagens sobre as eleições do Benfica, Almeida Ribeiro tem continuado a aconselhar informalmente Luís Filipe Vieira e o núcleo duro do dirigente máximo do clube. Contactado pela VISÃO sobre um possível conflito de interesses entre as duas atividades (ainda que uma delas não seja oficial nem remunerada), Almeida Ribeiro foi evasivo. “Não o conheço. Não falo com pessoas que não conheço e não sei quem o senhor é”, respondeu, perante a insistência da VISÃO (cujo jornalista se identificou várias vezes).
Já a diretora de comunicação do Grupo Bel, Helena Ferro Gouveia, saiu em defesa da empresa: “As sondagens da Aximage correspondem a todos os critérios de rigor científico e independência face a todos os poderes”, assegurou, acrescentando que o grupo se “pauta por valores como a integridade e a transparência” e que todas as empresas detidas obedecem escrupulosamente a esses princípios éticos. Quanto à potencial incompatibilidade de Almeida Ribeiro, Helena Ferro Gouveia recusou tecer comentários.
Formado em Filosofia, Almeida Ribeiro, agente das secretas “internas”, estudou também Ciência Política. Esteve no gabinete de Cavaco Silva (quando o ex-Presidente era primeiro-ministro), mas entrou no circuito socialista pela mão de Manuel Maria Carrilho, tendo sido chefe de gabinete do antigo ministro da Cultura. Depois, já com Sócrates em S. Bento, foi assessor político do chefe do executivo entre 2005 e 2009.
No segundo mandato do homem que foi acusado de 31 crimes no âmbito da Operação Marquês, Almeida Ribeiro foi promovido a secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro e quando o PS perdeu as eleições em 2011 pediu para ingressar no Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), o ramo das secretas que trata das questões externas, onde permaneceu poucos meses.
Almeida Ribeiro regressaria ainda à política, desta feita como conselheiro de António José Seguro. No entanto, segundo noticiou o jornal i em 2015, o ex-espião funcionava como “infiltrado” de Sócrates no largo do Rato, uma vez que informava o antigo chefe do Governo de tudo o que se passava nos bastidores socialistas, como viriam a confirmar as escutas da Operação Marquês.
Na sondagem divulgada no sábado, refira-se, Vieira era esmagador em relação à concorrência. Para 81,2% dos simpatizantes do Benfica, ganhará as eleições, contra os 3,3% que consideram que será Gomes da Silva e os 2,7% que indicaram Noronha Lopes.
O estudo, de acordo com a TSF, foi feito “com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses” acerca das eleições para a presidência do Benfica. O trabalho de campo decorreu entre 12 e 15 de setembro, ainda antes de se saber que, no âmbito da Operação Lex, Vieira seria acusado pelo crime de recebimento indevido de vantagem. Foram recolhidas 603 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal e feita uma amostra por quotas, com sexo, idade e região, a partir do universo conhecido, reequilibrada por sexo, idade, escolaridade e região. À amostra de 603 entrevistas correspondeu um grau de confiança de 95%, com uma margem de erro de 4%.