Os deputados do PSD escolheram esta quinta-feira a nova direção do grupo parlamentar – que terá Adão Silva, apoiante de Rui Rio, como líder -, mas, apesar de haver apenas uma lista sujeita ao escrutínio, a eleição está a suscitar bastantes críticas entre o universo eleitoral. Vários elementos da bancada confirmam à VISÃO a existência de um autêntico “Big Brother” e Pedro Pinto, que desistiu de concorrer com uma lista alternativa, sublinha que está a analisar outra irregularidade e que pondera, portanto, impugnar o ato eleitoral.
Vamos por partes. Primeiro, a Sábado noticiou que, ao longo do dia, na sala onde decorre o sufrágio, têm estado seis pessoas e que, no momento de votar, os deputados têm de dirigir-se a uma mesa “de um metro por três”, onde se encontra o chefe de gabinete e uma das secretárias da bancada, com duas urnas de madeira. Por isso, sob anonimato, houve várias vozes a insurgirem-se contra a falta de privacidade. Mas o problema não terminou aí, uma vez que de um dos lados da mesa onde se vota tem permanecido também o fotógrafo do partido e ainda uma câmara.
O desconforto era generalizado e diversos elementos do grupo parlamentar, sob anonimato, estão lamentar que o voto não possa ter sido feito longe de olhares e aparelhos indiscretos. Ainda segundo a Sábado, Emídio Guerreiro e Pedro Pinto terão até exigido que a câmara fosse desligada quando exerceram o seu direito de voto.
Além dessa, há outra denúncia, de natureza formal, que pode invalidar as eleições desta quinta-feira. Os parlamentares queixam-se de não ter sido seguido o procedimento habitual no que respeita à eleição dos coordenadores da bancada nas 14 comissões permanentes. A votação para a direção do grupo parlamentar, alegam, deveria ter sido feita num boletim e a escolha dos coordenadores realizada através do voto num segundo papel.Por norma, recorda um membro da bancada, costuma inclusivamente haver uma quadrícula à frente do nome de cada coordenador que vá a votos.
Ora, conforme decorreu, a votação foi feita em bloco. Um voto nos coordenadores foi, simultânea e automaticamente, um voto na equipa encabeçada por Adão Silva. A leitura dos mais críticos foi imediata: o expediente utilizado visou impedir que a eleição do sucessor de Rui Rio à frente do grupo social-democrata ficasse “manchada” por um número elevado de votos brancos e/ou nulos, como ocorreu quando Fernando Negrão foi indicado para o mesmo lugar na legislatura passada. A intenção, observam esses interlocutores, foi travar um veto silencioso a Adão Silva, que acabou por recolher 64 votos favoráveis (81%), contra os seis brancos e nove nulos registados, de acordo com a agência Lusa.
Em declarações à VISÃO, Pedro Pinto, opositor assumido de Rio, revela que está “a avaliar se a eleições estão a ser realizadas dentro de toda a legalidade”, visto que num só boletim estão “a ser contempladas votações para dois órgãos distintos”. Após esse exame jurídico, antecipa o ex-líder da distrital de Lisboa do partido, pondera mesmo “impugnar” o ato eleitoral que decorre na Assembleia da República.