Reunidos na Praça Luís de Camões, em pleno centro de Lisboa, os manifestantes lembraram que Lukashenko, que se mantém como chefe de Estado da Bielorrússia há 26 anos, desde 1994, é “o último ditador europeu” e que é necessário pôr termo a um regime que, tendo como pano de fundo as presidenciais de 09 de agosto, tem intensificado as perseguições políticas, impedindo também as candidaturas opositoras.
“A atual campanha eleitoral já pode ser considerada a mais violenta de sempre na Bielorrússia. Os tempos do terror vermelho de [Josef] Stalin serão o único termo de comparação”, lê-se no manifesto dos protestos.
Em declarações à agência Lusa, Ekaterina Drozhzha, bielorrussa de 26 anos, natural de Minsk e ligada à organização do protesto, realçou a necessidade de a comunidade internacional ter conhecimento do que se está a passar atualmente na Bielorrússia, onde grassa “o terror e a violência” na altura da campanha eleitoral.
“O objetivo [da ação de protesto] é chamar a atenção da comunidade internacional contra a violência e o terror que está a acontecer agora no país antes das eleições presidenciais. O grande problema da Bielorrússia é termos o mesmo Presidente no poder há 26 anos. Não há liberdade de expressão, não há democracia, as pessoas não podem dizer nada contra o regime e está a ser muito perigoso viver no país neste momento”, disse Ekaterina, em Portugal desde 2016.
Para a licenciada em Relações Internacionais, pela Universidade de Varsóvia, e em Jornalismo, pela de Wroclaw (sudoeste da Polónia), que fala fluentemente português, as principais figuras da oposição e que poderiam candidatar-se às presidenciais estão detidas, “sob argumentos fabricados”.
“Os principais candidatos da oposição a Lukashenko estão atualmente presos com casos fabricados. São claramente manobras políticas e um deles fugiu hoje do país com a família porque foi ameaçado”, afirmou, aludindo a Vitali Tsepkalo, diplomata de carreira e ex-diretor de um parque tecnológico no país.
Segundo Ekaterina – que veio para Portugal ao abrigo do programa universitário Erasmus, resolveu ficar e que começou a trabalhar com grupos de teatro e de cinema -, desde 08 de maio, antes do início da campanha eleitoral, foram detidas entre 1.200 e 1.300 pessoas, mais de 200 delas jornalistas.
“Esperamos que Lukashenko não fique no poder, esperamos pelo melhor. O que estamos a tentar fazer agora é chamar a atenção para o que está a acontecer no país, para evitar a violência. Estamos cansados de ter medo e as pessoas estão a começar a sair à rua e querem lutar por um futuro melhor”, afirmou Ekaterina, cujos familiares vivem em Minsk.
Questionada pela Lusa sobre se se pode esperar uma espécie de Primavera Árabe na Bielorrússia, a jovem respondeu não saber, mas disse ter consciência que os bielorrussos “não vão aguentar mais cinco anos de poder de Lukashenko”.
Lukashenko, 65 anos e há 26 no poder, está a enfrentar uma campanha eleitoral marcada por protestos da população e tem criticado duramente a imprensa, sobretudo a ocidental, considerando-a uma “pandemia política” por “apelos à participação em distúrbios” no país.
No início da semana em curso, mais de 200 jornalistas bielorrussos exigiram às autoridades para pôr termo às perseguições à imprensa e denunciaram que, apenas durante a campanha eleitoral, foram detidos 43 profissionais de comunicação social.
Lukashenko, que procura o sexto mandato presidencial, ameaçou de expulsão a imprensa ocidental por esta estar a fazer uma cobertura “tendenciosa” da campanha, nomeadamente em reportagens da cadeia de televisão britânica BBC e da fundada nos Estados Unidos Radio Free Europe/Radio Liberty, que incentivaram confrontações.
JSD // SR