“A minha demissão e saída do Chega é irreversível, não há volta a dar. Comuniquei a decisão ao André Ventura esta madrugada após ameaças de morte que recebi, inclusive dirigidas à minha família. Não criei perfis falsos, nunca o fiz. Se alguém o faz, é condenável e está a prestar um péssimo serviço ao partido”, afirmou à VISÃO Gerardo Pedro, dirigente nacional e diretor de conteúdos do Chega, na sequência da investigação publicada na nossa edição desta semana.
Emocionado, o empresário de Santarém, de 37 anos, revela que vai mesmo abandonar o partido. As ameaças telefónicas, “algumas feitas por pessoas que conheço, outras anónimas”, e o facto de o associarem à criação de milhares de perfis falsos o levaram a tomar esta decisão. “O meu papel foi sempre o de criar conteúdos. Nem sequer sou eu que os distribuo. Faço-os chegar a outros dirigentes, nomeadamente ao Ricardo Regalla e à Lucinda Ribeiro, e a distribuição é feita por eles. A partir daí, já não é comigo”, explica. Gerardo Pedro reconhece ter detetado “um ou dois perfis falsos” ao longo deste tempo, sem ter dado grande relevância ao facto. Mas desmente qualquer ligação a esse tipo de procedimentos. E reage, indignado: “Nunca o fiz nem faria. Juro pela saúde da minha filha. As coisas, a esse nível, estavam a correr bem, com muitas visualizações e partilhas, sem precisarmos de recorrer a esse tipo de métodos, que considero reprováveis. Se dirigentes do partido ou outras pessoas, em nome do Chega, o fazem, desconheço, mas não quero o meu nome associado a isso”, explica.
O dirigente garantiu à VISÃO que a demissão será em breve formalizada por escrito e, não obstante a gravidade das ameaças recebidas, recusa fazer queixa à polícia. “Chamaram-me fascista, racista e ameaçaram também a minha filha. Não posso provar, mas também recebi ameaças que virão dos setores mais extremistas do partido, pelo menos é a minha sensação. Sei quem são algumas pessoas e, se as denunciasse, a minha vida num meio pequeno como Santarém seria um inferno. E não posso dizer mais do que isto, peço desculpa”, justifica Gerardo Pedro. “A minha família é toda do PSD. Talvez seja um bocado ingénuo nisto, mas não sou racista, nem fascista, tenho amigos ciganos, nunca persegui ninguém nem entro em discursos desse tipo. Aderi ao Chega por convicção, mas não quero ser associado a coisas que nunca fiz e reprovo. Limito-me a criar conteúdos sobre a atividade e as mensagens do partido. O que fazem com isso, como divulgam, nunca foi da minha responsabilidade. A partir deste momento, estou fora. Quero trabalhar e ter uma vida tranquila”, conclui.
Na edição desta semana, em declarações à VISÃO, Gerardo Pedro fala do sucesso do Chega nas redes sociais, dando exemplos da adesão aos conteúdos do partido, mas, desde logo, nega qualquer responsabilidade na criação de perfis falsos.
A VISÃO ouviu também o diretor de uma agência de consultoria estratégica digital e monitorização de redes cuja carteira de clientes inclui grandes empresas e organismos governamentais alerta para a existência de outros fatores para esse sucesso, direta ou indiretamente associados ao partido e aos seus apoiantes. “É uma atuação típica de força militar. Os exércitos digitais do Chega são extremamente organizados e eficazes a replicar conteúdos”, explicou, referindo ter detetado perto de 20 mil perfis falsos.