Amália Rodrigues foi citada duas vezes. Pedro Homem de Mello, três.
Mas nem o PSD chamou a si o fado do desgraçadinho, nem os congressistas embarcaram em lirismos. Depois dos dois discursos inaugurais dos dirigentes locais de Viana do Castelo, Rui Rio foi prosa bruta, sobretudo para dentro de casa. “Deslocar o PSD para a direita é desvirtuar os nossos princípios e os nossos valores e afunilar eleitoralmente o partido em direção a um espaço onde hoje já praticamente nada mais há a ganhar”. Se dúvidas havia sobre o território eleitoral que a direção social-democrata pretende conquistar, está esclarecido: pela direita não é, com “geringonças” de outro estilo também não, sem ideologia muito menos. “Uma coisa é o PSD conseguir ser o líder de uma opção à direita da maioria de esquerda que nos tem governado. Outra, completamente diferente, é sermos nós próprios a direita”.
Nem “pragmatismo”, nem “extremismo”, nem iniciativas “liberais”, são as promessas do líder social-democrata para os tempos vindouros. E embora o resultado das eleições internas já estivesse definido, Rui Rio usou uma espécie de tempo extra para ilustrar o manual de bom comportamento com o qual pretende reger a vida interna e as escolhas para candidaturas ou funções em representação do partido. No PSD, avisou, estão condenados aqueles que agirem com base em amiguismos, “pequenos e médios interesses pessoais” ou ao serviço de uma qualquer “fação partidária local”. A porta está, pois, fechada para quem pretender fazer do PSD uma “agência de empregos políticos”, seja por via de “divergências fabricadas” ou de “atitudes pequeninas”, movidas por ambições particulares.
As regras são extensivas aos eleitos do poder local, tendo já como pano de fundo os combates de 2021. “Sempre que houver aproveitamento abusivo dos meios públicos autárquicos para fins de natureza pessoal ou partidária ou de utilização da autarquia como empregador de clientelas partidárias, esses casos têm de merecer o nosso inteiro repúdio e uma atenção especial do próprio Ministério Público”, alertou, garantindo desprendimento e independência em relação a cores políticas, incluindo a sua, naquela que foi uma das passagens mais aplaudidas da noite.
No discurso de Rui Rio, foram poucas as referências ao Governo e aos “adversários”, termo que o líder do PSD prefere a “inimigos”. Esse prato está reservado para o almoço de domingo, quando Rio encerrar os trabalhos a falar para fora. Pelos vistos, na noite de sexta, o PSD ainda tinha muita loiça para lavar da última contenda interna. A prova disso é que, mal Rio acabou de falar, poucos ficaram na sala para escutar os autores das outras moções. Houve quem citasse Nelson Mandela e até Baden Powell. Mas ali não havia escuteiros.