Fonte do gabinete do ministro da Defesa disse à agência Lusa que o pedido de demissão já foi aceite pelo primeiro-ministro.
Na base do pedido de demissão de Azeredo Lopes estão os desenvolvimentos do processo de investigação judicial ao furto e recuperação das armas furtadas nos paiós de Tancos.
Na carta enviada ao primeiro-ministro e a que a agência Lusa teve acesso, o ministro demissionário justifica o abandono do cargo com o desejo de evitar que as Forças Armadas sejam “desgastadas pelo ataque político” e pelas “acusações” de que disse estar a ser alvo por causa do processo de Tancos.
“Não podia, e digo-o de forma sentida, deixar que, no que de mim dependesse, as mesmas Forças Armadas fossem desgastadas pelo ataque político ao ministro que as tutela”, referiu Azeredo Lopes.
O ministro cessante voltou a negar que tenha tido conhecimento, “direto ou indireto, sobre uma operação em que o encobrimento se terá destinado a proteger o, ou um dos, autores do furto”.
“Desmenti e desminto, categoricamente, qualquer conhecimento, direto ou indireto, sobre uma operação em que o encobrimento se terá destinado a proteger o ou um dos autores do furto”, referiu.
Quanto ao momento em que decidiu sair, Azeredo Lopes explicou que quis aguardar pela finalização da proposta de Orçamento do Estado para 2019 para “não perturbar” esse processo com a sua saída.
Demissão aceite por “respeito” e para preservação da “importância fundamental” das Forças Armadas
Numa nota à comunicação social, o primeiro-ministro, António Costa, afirma que aceitou hoje a demissão do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, em respeito pela sua “dignidade” e “honra” e para a preservação da “importância fundamental” das Forças Armadas.
Esse pedido de demissão, refere o líder do executivo, foi apresentado em termos que não podia recusar “em respeito pela sua dignidade, honra e bom nome, e para a preservação da importância fundamental das Forças Armadas como traves-mestras da soberania e identidade nacional no quadro de uma sociedade democrática e moderna”.
“Quero publicamente agradecer ao Professor Doutor José Alberto de Azeredo Lopes a dedicação e empenho com que serviu o país no desempenho das suas funções”, acrescenta o primeiro-ministro.
Associação Nacional de Sargentos diz que Azeredo Lopes “fez bem” em demitir-se
O presidente da Associação Nacional de Sargentos, Mário Ramos, considera que Azeredo Lopes “fez bem” em demitir-se do cargo de ministro da Defesa, considerando que “estava fragilizado” afirmou esperar que “tudo seja investigado”.
“A nossa expetativa é que se apure toda a verdade até ao fim, porque é isso que os portugueses precisam de saber e os militares necessitam de tranquilidade para prosseguirem as suas missões”, disse.
Para Mário Ramos, Azeredo Lopes “fez bem” em apresentar a demissão a partir do momento em que recaíram sobre si “suspeições e acusações” de um alegado conhecimento sobre a operação de “encobrimento” na recuperação do material furtado em Tancos.
“O ministro já estava fragilizado”, considerou, acrescentando esperar que o sucessor que vier a ser nomeado para a pasta da Defesa seja alguém que resolva os problemas que “ficaram por resolver”.
A situação do Instituto de Ação Social das Forças Armadas, cuja dívida acumulada ultrapassa os 60 milhões de euros, e melhorar as condições sócio-profissionais dos militares, bem como devolver “a tranquilidade aos militares” são as prioridades apontadas pelo sargento Mário Ramos.
Rio diz que demissão de Azeredo Lopes peca por tardia
O presidente do PSD, Rui Rio, diz que a demissão do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, “peca por tardia, porque as Forças Armadas foram sujeitas a um debate púbico negativo durante demasiado tempo”.
O líder social-democrata defendeu, aliás, que “se houvesse um pouco mais de sentido de estado, esta situação já estava resolvida há mais tempo”, salientando, contudo, que “mais vale tarde do que nunca”.
“Considero que à saída do ministro da Defesa, aplica-se aquela frase popular ‘mais vale tarde do que nunca’, isto sem fazer um juízo de valor, se sabia ou sabia, mas em nome das condições políticas para o desempenho deste cargo”, afirmou.
Rui Rio considerou também que a nota emitida pelo gabinete do primeiro-ministro revela que “Azeredo Lopes teve sentido de estado mais cedo do que aparentemente o primeiro-ministro”.
O líder do PSD lembrou ainda que no início de setembro já tinha alertado para a situação de Tancos, que parecia esquecida, mas que em nenhuma ocasião pediu a demissão do ministro.
“Eu não peço demissões de ministros, não faço esses números políticos. Aquilo que disse é que se fosse primeiro-ministro, independentemente de ser verdade que Azeredo Lopes conhecia ou não conhecia aquilo que se tinha passado, em nome da dignidade das forças armadas impunha-se que houvesse o sentido de estado suficiente para se perceber que não havia condições para Azeredo Lopes desempenhar o cargo de ministro da Defesa”, defendeu.
Rui Rio disse ainda esperar que “não seja verdade que é por razoes táticas do Orçamento do Estado” que Azeredo Lopes se demitiu, sublinhando que é preciso apurar todas as responsabilidades neste caso.