O PS-Madeira vai propor a expulsão do seu antigo dirigente Emanuel Bento, na sequência da publicação de um artigo de opinião nesta quinta-feira no jornal Económico Madeira, bastante duro para o atual líder dos socialistas na região, Emanuel Câmara.
Na base da iniciativa, que deverá ser discutida na segunda-feira, na reunião do Secretariado regional, estão as críticas tecidas por Emanuel Bento ao caminho que está a ser seguido pelo PS-Madeira, com particular destaque o peso que o independente Paulo Cafôfo está a ganhar nas estruturas do partido. Ora, no artigo intitulado “Uma casa cheia de nada – os ‘Estados Gerais’ da treta”, carregado de ironias e insinuações sobre Câmara e Cafôfo, o braço direito do anterior presidente dos socialistas naquela região autónoma (Carlos Pereira) critica que o líder atual só tenha sabido das “escolhas dos coordenadores e dos temas [do evento] pela comunicação social”.
Apesar de não querer perder tempo a questionar “o desconhecimento dos ‘illuminati'”, bem como “a ausência de uma coordenação para a área da juventude e as críticas internas que isso suscitou”, Bento aponta o dedo à relação entre a Câmara Municipal do Funchal (CMF, chefiada por Cafôfo) e a comunicação social regional, que classifica como “situacionista” e “oblíqua” e acusa, com sarcasmo, de receber “alvísceras”.
“E podia continuar sem parar enumerando muitas mais situações em que não quero perder muito tempo, mas fico-me por três, a conta que Deus fez, pela hipocrisia extrema e pérfida de haver uma coordenação de Igualdade de Género e para bom entendedor não é preciso sequer meia palavra, a permanência dos lobbies que enriqueceram com o jardinismo, bem como o rosto da educação, mais conhecido por ter sido um ‘vereador-fantasma’ na CMF e por ter passado a vida ignorar o PS lá nas ações públicas da escola que dirige – os convidados eram sempre do PSD, isto para não falar da sua participação televisiva numa noite eleitoral”, poder ler-se no artigo.
E mais: o crítico de Cafôfo, que acusa de ter “zero” ideias para chegar à Quinta da Vigia no próximo ano, sugere que o autarca e os seus mais próximos plagiem a moção “Verdade e Credibilidade”, escrita por Carlos Pereira nas últimas eleições internas, método a que, observa, “já estão habituados”. Assim, finaliza: “E para terminar, que nunca gostei de hipocrisias, é verdade que bem podem ganhar mas não será com o meu voto nem com os votos da minha família.”
Contactado pela VISÃO, Emanuel Bento diz que ninguém do PS-Madeira lhe comunicou “oficialmente” a iniciativa da expulsão, embora não se mostre preocupado com a decisão. “Não me revejo num partido de golpistas”, atira. “O PS sempre foi um partido conhecido por valorizar a liberdade de expressão, mas parece que aqui na Madeira a música é outra. Estão a imitar o pior do PSD nos tempos de Alberto João Jardim”, lamenta.
Até à hora de publicação desta notícia, Emanuel Câmara não acedeu aos pedidos de esclarecimento da VISÃO.
Recorde-se que Emanuel Bento foi assessor do grupo parlamentar do PS na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, integrou a direção do PS-Madeira e também desempenhou as funções de adjunto de Paulo Cafôfo, entre 2013 e 2016, altura em que a coligação “Mudança” começou a desmembrar-se.