Na política portuguesa, o número de mulheres que chegam a cargos de liderança partidária conta-se pelos dedos de uma mão. Olhe-se para os principais partidos como exemplo. No PSD, apenas por uma vez houve uma mulher a liderar os destinos dos sociais-democratas – Manuela Ferreira Leite, de 2008 a 2010. No PS, nunca houve uma secretária-geral, embora atualmente seja Ana Catarina Mendes a responsável máxima pelo partido, o cargo de secretário-geral continua a ser ocupado por António Costa. No Bloco de Esquerda, a primeira e única mulher a liderar o partido foi Catarina Martins, que é a atual coordenadora bloquista. Situação idêntica acontece no CDS, com Assunção Cristas. No PCP nunca houve uma mulher na secretaria-geral. Nas juventudes partidárias, o caso não muda muito de figura. Esta falta de representatividade feminina nas chefias destas organizações pode ficar reduzida se Margarida Balseiro Lopes chegar a presidente da JSD. A mais jovem deputada da bancada laranja no parlamento anunciou no passado domingo que é candidata a dirigir a jota e tornou-se na primeira mulher a fazê-lo. Consequentemente, pode ser a primeira a chegar à liderança da Juventude Social-Democrata se vencer as eleições em abril deste ano.
Natural da Marinha Grande, Margarida Balseiro Lopes diz estar a prestes a atravessar o maior desafio da sua vida. O facto de ser uma mulher não tornou “o caminho mais fácil” até agora, confessa à VISÃO. Mas não quer que a sua candidatura se esgote nesse mote. “A lógica de ser a primeira mulher a concorrer a este cargo é importante mas também redutora”, explica antes de detalhar: “não ignoro a sua relevância, sobretudo se servir para dar o exemplo a outras raparigas e a outras mulheres, encorajando-as a entrar na política, mas não é o fator mobilizador da minha candidatura.”
O que move a parlamentar, garante, vai muito além desse aspeto. Existe, em primeiro lugar, uma “motivação pessoal” para avançar. Em segundo lugar, “o apoio e a confiança” que lhe foram manifestados desde que a hipótese começou a ser algo mais do que um esboço mental da agora candidata. E em terceiro e último lugar, a convicção de que pode ser “a melhor líder que a jota já teve.” Há uma outra condição que pode ser benéfica para a candidata: o facto de conhecer bem a estrutura da JSD. Atualmente faz parte da direção, desempenhando a função de secretária-geral, que a obrigou a fazer um périplo pelo país, de forma a articular-se com as várias secções da jota espalhadas por Portugal. “Fui recolhendo as críticas e as sugestões dos militantes ao longo do último mandato”, sustenta orgulhosa. Até ao momento conta com o apoio de dez distritais (de um total de 21).
Margarida Balseiro Lopes não apoiou formalmente nenhum candidato à presidência do PSD. Não o fez, explica, “para salvaguardar a estrutura da jota”, já que depois de o líder ter manifestado apoio a Santana Lopes a função de secretária-geral “podia ficar mais condicionada se apoiasse formalmente um candidato, fosse ele qual fosse.” Apesar de não se ter manifestado publicamente sobre o tema, acredita que pode vir manter uma boa relação com a futura direção.
A deputada tem vindo a ganhar palco desde que entrou, no final de 2015, para a Assembleia da República. Eleita pelo círculo eleitoral de Leiria, faz atualmente parte de três comissões no Parlamento: a de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa; a Comissão de Educação e Ciência; e a Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto. Antes, passou pelo setor privado, trabalhando para uma consultora. Apesar de serem experiências diferentes, admite que agora dorme “muito menos.” Algo que se acentua devido ao facto de estar a frequentar uma pós-graduação em Direito Fiscal. “Tenho aulas todos os dias ao fim da tarde” Licenciada em Direito e mestre em Direito e Gestão, Margarida Balseiro Lopes reconhece que o cargo a que se candidata pode vir a retirar-lhe ainda mais tempo, mas não se mostra preocupada. “As coisas têm de ser feitas com brio, e eu sempre trabalhei dessa forma”, afirma, garantindo emprenho no exercício de todas as funções.
A caminhada até à liderança não vai ser fácil. Faltam cerca de dois meses para se saber quem irá suceder a Cristóvão Simão Ribeiro, também deputado, mas já se sabe que a corrida deve fazer-se a dois. Para chegar à liderança, Margarida Balseiro Lopes terá de derrotar André Neves, advogado próximo de Rui Rio, líder da JSD de Aveiro e um dos atuais vice-presidentes da comissão política nacional da jota. Conta com o trunfo de ser um dirigente da jota e com o facto de ser alguém que se relaciona bem com o presidente eleito do partido. Um dado que pode vir a revelar-se importante na campanha. Apesar desse aspeto, que pode ser mais favorável ao adversário, a candidata mostra-se confiante numa vitória que, a acontecer, e mesmo que não deseje o destaque associado, será histórica para as mulheres da JSD