O tema da palestra era “A Geoestratégia do Mundo em 2018.” O orador tinha pouco mais de uma hora para abordar os vários conflitos que se vão viver um pouco por todo o mundo nos próximos doze meses. Apesar de ter experiência diplomática e de contar com uma forte aptidão para falar para plateias cheias – e esta era-o -, Paulo Portas ultrapassou o tempo inicialmente estipulado, “Foi uma pequena volta ao mundo”, gracejava no fim antes de responder às perguntas dos jornalistas. Descontraído, avisava que não iria falar de política nacional. O tema da palestra era outro e o seu interesse também – o de evitar falar do sucessor daquele que foi durante 4 anos o seu parceiro de Governo.
Momentos antes de ter respondido às perguntas dos jornalistas, Portas falava para uma sala onde estavam dispostas cerca de uma dúzia de mesas redondas, todas totalmente ocupadas. Enquanto era servido o pequeno-almoço, a plateia ouvia-o atentamente. Com um palco e palanque de que não quis dispor como pano de fundo, o ex-dirigente do CDS falava de pé a partir da mesa onde antes estivera sentado.
Depois de alertar para o perigo dos populismos na Europa e de ter chamado a atenção para as consequências da política externa seguida por Trump, Paulo Portas falou de competitividade. Na sua ótica, os países europeus estão cada vez menos competitivos devido à “cultura de direitos adquiridos”, algo que considera um “assalto mental.” E acrescentou: “Os países que melhor garantem que os direitos são mesmo adquiridos são aqueles que criam riqueza suficiente para os poderem financiar.”
Entre os presentes estavam deputados, vereadores, diplomatas e empresários. Foi para estes últimos que o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros se dirigiu inúmeras vezes, dando sinais, como se de um piscar de olhe se tratasse, sobre os países onde vale a pena investir. Mostrou-se atento aos problemas emergentes em vários pontos do globo e elencou as vantagens de acentuar (ou atenuar) as relações com certas nações. Defendeu uma resposta à reforma fiscal de Trump, apelou a uma relação mais pragmática com a Rússia – “não estamos a falar da União Soviética”, lembrou – e elogiou a política de acolhimento de refugiados seguida pela Colômbia, que considera uma lição para os países europeus.
Depois de uma longa exposição e de ter tocado, ainda que em alguns casos ao de leve, diversos temas que vão marcar o ano político, Paulo Portas terminou a ser aplaudido por todos os presentes. Uns chegaram mesmo a aproximar-se para o cumprimentar, outros iam abandonando a sala e depois o edifício discretamente. Membros da organização pareciam satisfeitos e anunciavam uma reedição desta palestra no próximo ano. Até lá, pelo menos, o ex-líder centrista promete continuar afastado da vida política.