O presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, e o PSD, estão cercados pela oposição. Agora foi o CDS a juntar-se ao coro partidário que exige ao autarca e aos sociais-democratas esclarecimentos sobre as alegadas ligações à Webrand através de campanhas eleitorais e contratos públicos celebrados entre a autarquia e as sociedades ligadas à agência. Sem deixar de presumir a inocência dos visados, o CDS da Póvoa repudia “comportamentos eticamente reprováveis ou duvidosos” e “legalmente condenáveis”. Nesse sentido, os seus dirigentes consideram “necessário e desejável um maior esclarecimento público” por parte do PSD em relação aos dados revelados pelas investigações da VISÃO.
A comissão política concelhia do partido, num comunicado assinado por Jorge Quintas Serrano, lamenta que o nome do presidente Aires Pereira e o da própria cidade sejam arrastados “para os infelizmente conhecidos lodaçais político-partidários”, nos quais o CDS não se revê e deseja “o quanto antes, esclarecer e afastar”. Do mesmo modo, o partido solicita às instituições judiciárias que cumpram o seu papel na defesa da legalidade”.
O partido recorda ainda – ao contrário do que a VISÃO, por lapso, escreveu – nunca ter feito parte de qualquer coligação com o atual presidente nos anos a que se referem as suspeitas.
PS, CDU e BE insatisfeitos
Esta posição vem na sequência de atitudes idênticas assumidas, há dias, pelo PS, CDU e BE.
São “relatos de extrema gravidade que, a serem comprovados, revelam a captura de dinheiros públicos para fins políticos e benefícios pessoais diretos do Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim”. Foi desta forma que a estrutura local do PS no concelho reagiu ao “Webrandgate”, o conjunto de investigações que a VISÃO vem publicando sobre as ligações suspeitas entre a autarquia da Póvoa, o presidente Aires Pereira e o PSD com as sociedades do grupo Webrand, em mandatos anteriores. Tal como noutros municípios, a agência de publicidade terá sido veículo para financiamentos ilegais a campanhas eleitorais tendo alegadamente beneficiado de concursos públicos e ajustes diretos, alguns deles, forjados por parte do município.
O secretariado concelhio do PS admite, em comunicado, nunca ter querido fazer deste o tema principal da campanha. “Todavia”, escrevem os seus dirigentes, “atendendo à gravidade dos factos que são imputados e à falta de esclarecimentos, os poveiros merecem o definitivo e cabal esclarecimento relativamente às práticas e processos narrados pela revista”. O partido, que candidata Miguel Fernandes à presidência da autarquia, entende, ainda assim, deixar “o julgamento destas matérias para os órgãos competentes”, mas, adverte, “caberá aos poveiros a avaliação ética dos comportamentos relatados e das eventuais explicações que venham a ser dadas”.
Também a CDU, pela voz do seu cabeça-de-lista José Rui Ferreira, recusa fazer política “com base na exploração de casos e muito menos em período eleitoral”. Contudo, assinala, “não pode deixar de sublinhar que as «explicações» de Aires Pereira não esclarecem nada como os factos posteriores publicados na versão online [da VISÃO] o comprovam. Exigimos que Aires Pereira esclareça e as autoridades competentes retirem as devidas ilações”, afirma o candidato à presidência da Câmara que, numa sessão pública na Cooperativa Filantrópica, realizada no dia 9 na Póvoa, já havia manifestado a sua posição sobre as matérias trazidas a público pela VISÃO e que envolvem o atual presidente e as empresas do universo da agência de publicidade Webrand.
Insatisfeitos com as explicações públicas de Aires Pereira estão também o Bloco de Esquerda (BE) e o seu candidato, Victor Pinto, que também voltaram ao assunto depois de a VISÃO ter divulgado, no seu site, o conteúdo de dezenas de documentos trocados entre os gestores da Webrand e responsáveis autárquicos. O BE da Póvoa “e muitos poveiros não ficaram minimamente satisfeitos com as parcas explicações que o autarca Aires Pereira deu à porta fechada acerca das suspeitas do seu envolvimento no caso Webrand”, reagiu o partido em comunicado. Desse modo, sublinha, “os poveiros têm o direito de saber o que se passa. Trata-se da reputação do município e das suas instituições. Não descansaremos enquanto esta questão não ficar cabalmente explicada pelo atual presidente da Câmara da Póvoa de Varzim e seus colaboradores mais diretos. As suas declarações não explicaram nada”, advertem, prometendo lutar por “um cabal esclarecimento destas suspeitas de envolvimento em esquemas de financiamento ilegal de campanhas eleitorais, tendo como contrapartida o favorecimento de empresas nos negócios da Câmara e benefícios pessoais”.
Até ao momento, apenas o PSD da Póvoa se mantém em silêncio relativamente a este caso.
(Atualização da notícia publicada no dia 19 de setembro)