Quando nasceu, no final de julho de 1990, Pedro Tadeu da Costa obrigou Fernanda e António a deixarem o T0 onde viviam, em Carnide, e a arranjarem uma casa maior. A família Costa mudou-se então para um terceiro e quarto andares antigos, sem elevador, no Príncipe Real, onde Pedro deu os primeiros passos. Os segundos deu-os junto ao mar, em Fontanelas, para onde se mudaram todos no início dos anos 2000. Mas Pedro, rapaz festeiro e divertido, como contam amigos, teria de voltar à cidade. O facto de o pai, António Costa, ganhar a Câmara de Lisboa, em 2007, e de as idas e vindas de Fontanelas serem difíceis de conciliar com uma agenda preenchida, só precipitou as coisas. Pedro, com 17 anos, a um ano da faculdade, mudou-se, com o pai, para a cidade.
Apesar dos 50 quilómetros de distância entre pai e filho e mãe e filha, a família sempre se manteve unida. Até aí, Pedro tinha sido educado pela mãe (coisa que diz “sem mágoa”). Mas a influência do pai é clara nos passos que tem dado desde então. Como o pai, filiou-se na Juventude Socialista (JS) aos 14 anos, entrou na Faculdade de Direito de Lisboa (FDL), envolveu-se no movimento associativo e na direção da faculdade. Cumpriu tudo o que tinha a cumprir no curso até que começou a trabalhar, deixando cinco cadeiras por terminar. “Há erros que só vemos tarde demais”, confessa hoje, garantindo que o pai o tentara desincentivar de Direito por haver “áreas mais interessantes” para a sua geração. Tem-se dedicado à comunicação, à organização de eventos e à gestão, onde se sente verdadeiramente peixe na água.
Filho de peixe sabe nadar. Mas quer?
Apesar da idade com que se filiou na JS, de já ter (há quatro ou cinco meses) cartão de militante do PS, apesar do curso de Direito e da FDL, a vida do filho divergiu da do pai. Mas há aspetos a que um filho dificilmente consegue fugir. Primeiro, o perfil. Francisco Laplaine Guimarães, amigo de longa data de Pedro, seu adversário político (Francisco é dirigente da Juventude Popular), vê-o como uma pessoa “muito inteligente”, um “democrata” com “grande sentido de humor” e “um mau feitio a condizer com uma grande exigência consigo próprio e com os outros”, característica muitas vezes apontadas ao pai António, atual primeiro-ministro.
Mas há mais. Pedro estava longe da política e do partido quando aceitou o convite para ser candidato à Assembleia de Freguesia de S. Domingos de Benfica. Acabou por substituir uma vogal, no Executivo, e ficar com as pastas da Inovação, Economia Local e Empreendedorismo. Em final de mandato, estava decidido a afastar-se (afinal, nem vive em Benfica), a regressar a tempo inteiro à sua vida profissional, a preparar o casamento, previsto para 2018. Mas não resistiu ao desafio que lhe colocaram. Pedro Tadeu da Costa será o número três da equipa de Pedro Cegonho (o autarca que acumula a presidência da junta de Campo de Ourique com a da Associação Nacional de Freguesias), que conta com ele para as áreas da Inovação e do Empreendedorismo. A mãe, Fernanda Tadeu, não estranhou. Afinal, é em Campo de Ourique que Pedro vive, num casa alugada. É lá que abre o terraço para receber os amigos, que pratica boxe e que teve, com três amigos, o bar Winston.
Mas será a política uma questão de família? Fernanda Tadeu tem dúvidas. “A política é um bichinho que vive lá em casa. É normal que o tenha afetado”, mas este passo parece-lhe mais um “exercício de cidadania” do que um mergulho na vida política. Francisco Laplaine Guimarães (também ele filho de político, o centrista Alberto Laplaine Guimarães) confirma que nunca viu o amigo a querer “fazer carreira” na política ou no partido. E, apesar do percurso do pai, o próprio Pedro diz ter “dificuldade em pensar a política como uma atividade permanente na vida de alguém.” Mas a verdade é que já lá está… e quer continuar. Quem sabe se o bicho não continua a propagar-se na família Costa?
Costa, um homem de várias famílias
Pode não ter sido o pai e o marido mais presente dos últimos 20 anos, mas António Costa esteve sempre nos momentos importantes (aniversários, festas da escola, doenças) da família, garante Fernanda Tadeu. António “tinha outras coisas para fazer”, como ser deputado, autarca, ministro. Hoje é primeiro-ministro e não deixa de ser um homem de família. A única diferença é que levou o conceito (ou o ambiente, familiar) para o seio do seu governo.
Na última remodelação, substituiu Fernando Rocha Andrade – que, mais do que seu colaborador há mais de 20 anos, é seu amigo – por António Mendonça Mendes. Para a secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais entrou, assim, não um fiscalista, como muitos vaticinavam, mas o irmão da secretária-geral-adjunta do PS, Ana Catarina Mendes. Advogado de profissão, o novo governante não é um desconhecido dos socialistas. Militante de longa data, é presidente da Federação do PS de Setúbal. No seu currículo não consta qualquer experiência na área fiscal. Na hora da escolha do sucessor de Rocha Andrade, terá contado mais a bagagem política de António Mendes do que os seus conhecimentos técnicos. Conseguirá, com isso, fazer-se respeitar, dentro do Ministério das Finanças, como o seu antecessor (com doutoramento feito em Assuntos Fiscais) conseguiu?
Por vontade própria ou obra do acaso, os laços familiares circundam António Costa. A relação conjugal entre Ana Paula Vitorino e Eduardo Cabrita foi comentada logo em 2015, quando se tratou de formar Governo. Mas a sua chegada a ministra do Mar e a ministro-adjunto do primeiro-ministro pouco ou nada terá tido a ver com os seus laços – ou, pelo menos, destes laços. Eduardo Cabrita foi colega de faculdade de António Costa e seu secretário de Estado no Ministério da Justiça, entre 1999 e 2002 – amizades de longa data são quase fraternais. Ana Paula Vitorino, engenheira civil, não andou na FDL mas partilhou o partido e o governo com Costa. Enquanto ele era ministro da Administração Interna, em 2005, ela estreava-se numa secretaria de Estado – a dos Transportes, tutelada por Mário Lino, então ministro das Obras Públicas. Costa e Vitorino cruzaram-se no partido, nas campanhas eleitorais e nos 35 dias que mediaram a posse dos deputados da XIII legislatura e a dos membros do Governo.
Se se opusesse à acumulação de laços (familiares com os executivos, por exemplo), Costa não teria trazido Mariana Vieira da Silva, filha do ministro do Trabalho, para sua secretária de Estado-adjunta. Haviam trabalhado juntos na Câmara e no Gabinete de Estudos que deu vida ao programa do Governo. Se pai ou filha puderam ter pudor em entrar ambos no Governo, para o primeiro-ministro essa não era uma questão.
Num pequeno país como Portugal, encontram-se sempre laços familiares. O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, é filho do ex-secretário de Estado da Justiça de Vera Jardim e Guilherme W. d’Oliveira Martins, secretário de Estado das Infraestruturas, filho do ex-ministro de António Guterres. E, como Costa tem tendência a apostar que “filho de peixe sabe nadar”, ficam portanto abertas as apostas sobre onde estará Pedro Tadeu da Costa, daqui a 10 ou 15 anos.
Outras famílias
Câmara de Lisboa
António Costa levou para o Governo pessoas com quem já tinha trabalhado na Câmara Municipal de Lisboa (CML). A secretária de Estado- -adjunta e da Modernização Administrativa, Graça Fonseca, foi responsável pela pasta da Reforma Administrativa na autarquia, entre 2009 e 2015. Também Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão, foi, entre 2007 e 2013, assessora jurídica da vereação. Com a remodelação da semana passada, Costa voltou a recrutar na Câmara que presidiu entre 2007 e 2015. A recém-criada Secretaria de Estado da Habitação passou a ser tutelada por Ana Pinho, uma arquiteta que exerceu funções de consultadoria para a CML entre 2012 e 2015.
Faculdade de Direito de Lisboa
O primeiro-ministro também aproveitou para recrutar na Faculdade de Direito de Lisboa (FDL), onde ele próprio se licenciou. Os ministros Eduardo Cabrita (colega de curso de Costa), Francisca Van Dunem e Luís Filipe Castro Mendes são alguns exemplos. Com a remodelação da semana passada, esta família foi reforçada com Tiago Antunes, que veio de Bruxelas para liderar a secretaria de Estado da Presidência. Tiago Antunes, licenciado e doutor em Direito pela FDL, veio juntar–se a Guilherme W. d’Oliveira Martins, Alexandra Leitão, Marcos Perestrello, Carlos Miguel, Ana Sofia Antunes e Ana Mendes Godinho, todos secretários de Estado oriundos da FDL.
(Artigo publicado na VISÃO 1272, de 20 de julho de 2017)