Nunca se esteve tão perto de uma solução para aumentar a capacidade do aeroporto Humberto Delgado – e ela já não vem cedo. Em 2016, passaram por Lisboa mais de 22 milhões de passageiros e, agora em janeiro, o tráfego aéreo cresceu 21% face ao período homólogo do ano passado. A tendência deverá manter-se. Para 2030, prevê-se que ele aumente 18 por cento, uma percentagem que só não é maior porque foi pensada a contar com os voos que irão passar por uma das pistas da base aérea do Montijo.
A assinatura do memorando de entendimento, na presença do primeiro-ministro, António Costa, do ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, do presidente da Confederação do Turismo Português, Francisco Calheiros, do presidente da VINCI Airports, Nicolas Notebaert, e do presidente da ANA, Jorge Ponce de Leão, é o aperto de mão necessário para formalizar a passagem do processo para a ANA, que poderá, assim, concretizar a expansão do aeroporto Humberto Delgado.
Tomada a decisão de expandir o aeroporto de Lisboa para a Base Aérea n.º 6 (ou BA6), com a assinatura do memorando fica nas mãos da concessionária que gere os aeroportos nacionais a obrigação de realizar os estudos necessários para a sua concretização. Até ao final deste ano, a ANA terá de apresentar ao Governo o projeto e o investimento que considera mais adequado, assim como o modelo de financiamento.
A utilização de parte da BA6 para voos comerciais vai obrigar ao alargamento e do reforço das fundações da sua pista secundária, construída nas salinas do Samouco. Entre outras coisas, será também preciso colocar um terminal pré-fabricado semelhante ao Terminal 2 do aeroporto Humberto Delgado. No total, as obras não deverão ultrapassar os 250 milhões de euros.
A esse valor acrescerão os 15 milhões de euros que a Câmara do Montijo estima serem necessários para garantir os acessos rodoviários. Segundo o presidente da autarquia, será preciso terminar a Circular Externa até ao Seixalinho, requalificar a Avenida do Seixalinho com ciclovia e fazer uma nova ligação à Ponte Vasco da Gama. “Precisamos também de transportes públicos melhores, e queremos garantir que seja a Câmara do Montijo, através dos SMAS [Serviços Municipalizados de Água e Saneamento], a abastecer a nova infraestrutura aeroportuária”, disse à VISÃO Nuno Canta.
Nas contrapartidas, o autarca conta ainda com a construção de percursos pedonais nas antigas salinas e a conclusão da variante da Atalaia, que esteve prevista para ser concluída em 1998. “É muito importante para que o trânsito que vem de Espanha tenha uma ligação qualificada ao aeroporto”, lembra.
Igualmente importante, diz Nuno Canta, será melhorar a ligação fluvial entre o Montijo e Lisboa. O Cais do Seixalinho terá eventualmente de ser reformulado, sobretudo se a Transtejo acatar a sugestão de comprar novos catamarãs, panorâmicos e mais rápidos. A viagem demora atualmente cerca de vinte minutos e o objetivo será encurtar esse tempo para metade. A frequência, que nas horas de ponta é a cada 30 minutos, terá de aumentar substancialmente. E deverá ser utilizado o cais de Santa Apolónia, com ligação direta à estação de comboios e ao terminal de cruzeiros.
Mais remota – mas falada, inclusive por António Costa, numa entrevista recente – é a hipótese de um transporte ferroviário de natureza ligeira na Ponte Vasco da Gama. Por enquanto, quem já esfrega as mãos são os taxistas, que neste momento pedem cerca de 35 euros por uma viagem até Lisboa.