SÉRGIO SOUSA PINTO
“E agora ficamos sozinhos”
FRANCISCO SEIXAS DA COSTA
“O corpo pesado estende-se pela cadeira, por detrás da secretária. A custo, insiste em levantar-se. Para me abraçar, para agradecer a visita. O seu olhar perde-se naquela sala tão cheia de recordações, de histórias, de História. As palavras saem-lhe com alguma dificuldade, quase automáticas, sempre amáveis. Suscita os temas que o mobilizam, as emoções e as certezas últimas que lhe dão alento à vida, mas também as tristezas que o abatem. Escolho bem as minhas palavras, mas não sei se são as certas. Relembro tempos comuns, mas não tenho a certeza de me estar sempre a seguir. Procuro assuntos que o façam reagir, agarra alguns, deixa passar outros em silêncio. Os nomes fogem-lhe, vive já com essa realidade, organiza o discurso em torno desses espaços vazios. Pergunta-me pela vida, mais para se orientar do que por real interesse. Dou-lhe novidades que, há pouco tempo, seriam para ele banalidades. Instalam-se entre nós as pausas, cada vez mais longas. Fico muito triste, sem saber o que dizer. Despeço-me com a quase certeza de ser aquele o nosso adeus.”
(Escrevi este post em 4 de agosto de 2015. O amigo, que então não nomeei, era Mário Soares. Morreu há pouco. O encontro que relatei foi a nossa despedida)
EDITE ESTRELA
“Morreu Mário Soares. Como é doloroso escrever estas palavras. Era esperado, sim, mas o ser previsível não atenua o sentimento de perda. Perda irreparável, em termos pessoais e políticos. Mário Soares é o maior político da nossa democracia, a grande referência da nossa história contemporânea, o visionário que nos integrou no projeto europeu, o defensor da Liberdade, o inconformidade… que esteve sempre à frente do seu tempo. Com a sua morte, perdemos como que uma parte de nós. (…)”
ISABEL MOREIRA
“Coragem, liberdade, igualdade, democracia, internacionalismo, direitos humanos, continuar!”
CARLOS MOEDAS
Mário Soares, 1924-2017
“É um dos raros portugueses do Portugal contemporâneo de quem se pode dizer, realmente, que foi um cidadão do mundo. Sobre a vida e obra de Mário Soares está quase tudo dito e escrito. Falta acrescentar que ele se soube transcender a si próprio, ao seu país, e ao seu combate político, para figurar entre os grandes da História da Humanidade.”
CATARINA MARTINS
“Homenagear Mário Soares como escolheu ser retratado; por Júlio Pomar. O homem com tantas vidas como a nossa democracia. Contraditório, certamente. E sem esquecer nada, digo-vos que hoje escolho recordar com gratidão o homem que mandou a idade e o conforto às malvas para se levantar na aula magna, com toda a esquerda, na defesa do país contra a troika.”
PEDRO SANTANA LOPES
“É um dia muito triste para Portugal. Mário Soares faz parte das pessoas que não quer que estejamos tristes, mas que lembremos o que ele fez na vida. Ninguém o vergava.”