O “militante espontâneo”, como se referiu a si próprio na entrevista que dá esta semana à VISÃO, o jovem deputado do PS Ivan Gonçalves promete lutar para que o Governo coloque um limite aos valores das propinas cobradas nos mestrados e, aos 29 anos, rejeita a ideia de que as juventudes partidárias tenham deixado de ter causas.
Como nasceu a paixão pela política?
Sou militante da JS desde 2007. Curiosamente não tenho nenhum familiar militante do PS ou qualquer influência. Quando estudava na faculdade percebi que, para que a minha opinião política fosse consequente, devia fazer-me ouvir na vida partidária. Fui um militante espontâneo. Depois fui participando e hoje a maioria dos meus amigos acabam por ser militantes da JS. Sempre tive a paixão da política, apesar de ter estudado engenharia no Instituto Superior Técnico.
É um político profissional ou um profissional da política?
Neste momento, sou um político profissional. Nunca tinha sido. Foi uma experiência nova e que influenciou esta decisão de ser ou não presidente da JS. Trabalhava como engenheiro numa empresa e tive a sorte de ser eleito deputado nestas eleições. A partir daí faço política a tempo inteiro. Gosto muito. Não me vejo a fazer política até à minha reforma, porque é importante termos outras atividades e mantermos a nossa profissão.
Com a degradação da política e uma imagem cada vez mais negativa, o que é que se pode fazer para levar os jovens a interessar-se novamente por ela?
Passa necessariamente por uma maior formação cívica nas escolas. Não podemos continuar a ter escolas que até repelem a política como sendo uma coisa suja em que não devem participar. Ensinar aos nossos jovens o que é a política e mostrar-lhes que não existem sociedades sem política. É fundamental até para sobrevivência do nosso regime democrático. Esta descrença que existe nos políticos não é exclusiva do nosso país. Tem a ver com o individualismo crescente. É importante explicar aos jovens qual é o trabalho de um político e mostrar que a maioria dos políticos são pessoas sérias e fazem trabalho de forma empenhado. Todos devemos contribuir para isso – juventudes, escolas, comunicação social.
As juventudes partidárias deixaram de ter causas?
Têm perdido implementação na sociedade, fruto do descrédito e da crise. Mas não acho que não tenham causas. A JS não abraça causas só para garantir sucesso mediático. Não o fez e vai continuar a não fazê-lo. Queremos chegar à maioria dos jovens, mas ter propostas equilibradas.
A JS tem casos recentes de ex-líderes e ex-dirigentes que assumem hoje cargos de liderança no país e cargos de relevância no governo. Tentamos fazer valer as nossas propostas. Nem todas são aceites. mas o diálogo com o primeiro-ministro e com os ministros tem sido frutífero. A JS tem contribuído durante este novo espaço de governação para apresentar algumas propostas muito interessante: congelamento da propina do ano passado no OE/16, regulamentar as taxas de emolumentos cobradas nas universidades. Atribuir às empresas sem precaridade um selo de garantia.
Qual será a bandeira deste seu mandato?
Tentarmos que os jovens olhem para o seu futuro e que tenham boas perspetivas para se poder emancipar, rendimentos condizentes com expectativa. Que não sejamos a primeira geração que vive pior do que as gerações anteriores. O Ensino Superior deve ser um espaço de igualdade e mitigação das desigualdades. Vejo com muita preocupação que tenhamos mestrados de segundo ciclo em que os alunos tenham que pagar 15 mil euros. Vamos lutar junto do Governo para que seja fixado um limite a essas propinas, tal como já acontece nas licenciaturas.
É pró-geringonça?
Revejo-me num PS mais próximo da esquerda do que da direita. A direita extremou-se e não é bom para o PS estar, sequer, desse lado.