Na sua primeira grande entrevista como ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues faz a defesa acérrima da escola pública, elogia os diálogos com a esquerda parlamentar e mostra-se orgulhoso por ter conseguido introduzir a medida dos manuais escolares gratuitos no primeiro ano de escolaridade.
Alguma vez tinha pensado ser ministro da Educação?
Não. Nunca tinha verdadeiramente pensado que um dia iria ser ministro da Educação. Tinha pensado, sim, que algum dia poderia ter responsabilidades maiores do que as que tinha. N
unca me inibi de assumir responsabilidades e nunca resisti aos novos desafios que a vida me propôs. E este era claramente um novo desafio que a vida me estava a propor e eu tinha que o agarrar.
Mas é um ministro muitas vezes acusado de não conhecer a realidade portuguesa por ter vivido longe durante muito tempo. Como encara essas críticas?
É uma critica natural e frequente a quem viveu fora de Portugal. Só que o mundo mudou e viver no estrangeiro agora já não é a mesma coisa que ter vivido no estrangeiro há 50 anos. O meu contacto com o País era constante. Eu vinha a Portugal muitas vezes, tinha a noção real do que acontecia no quotidiano das pessoas. Quanto à falta de experiência, nomeadamente experiência política, isso combate-se com o trabalho, com a aprendizagem rápida, com empenho, tenacidade, e acima de tudo acreditando no caminho que trilhamos. E eu, ao longo destes tempos, tenho provado que estou aqui para dar o meu melhor com todas as armas que tenho e com todas as armas que tinha na minha vida anterior e que são aplicáveis claramente à vida de ministro da Educação. O mais importante, acima de tudo, é rodear-nos das pessoas capazes, criar uma boa equipa. E aí claramente nós temos uma equipa que é claramente a melhor ou das melhores naquilo que faz.
Durante alguns meses foi o alvo preferencial da oposição. Alguma vez sentiu falta de solidariedade no seio do Governo?
Não
Nem sentiu algum distanciamento pelo facto de ser independente?
Também não. Até hoje, senti sempre uma grande sintonia e uma grande solidariedade por parte do primeiro-ministro, do Governo, do Partido Socialista e do seu grupo parlamentar, relativamente às medidas que fomos tomando. Isto, também, porque houve sempre uma comunicação muito oleada, muito fértil, com eles todos, para que as medidas não sejam única e exclusivamente do ministro da Educação, mas para que sejam medidas que o ministro da Educação põe em prática, com base nas decisões tomadas e que foram inscritas no Programa de Governo aprovado no parlamento.
E com os outros partidos que sustentam o governo?
Sim, também. A geometria de apoio parlamentar que apoia este governo é fundamental. É algo em que eu acredito e, nesse sentido, tenho tentado construir, com o BE, o PCP e os Verdes, todas as pontes possíveis. E, sempre que necessário, destruir um ou outro muro que se tenha interposto pelo caminho. Acredito que muita da virtude desta opção governativa reside nesse esforço de diálogo constante, sério, maduro, com opções claras e com objectivos bem definidos que toda a gente assumiu. Este governo vai vivendo, muito mais do que vai sobrevivendo. É um governo com uma vivência constante e uma maturidade assumida.
Em que ponto está a sua investigação sobre o diagnóstico do cancro que, há três anos, foi notícia em todo o mundo?
As coisas estão a correr bem. Se eu estivesse em Cambridge neste momento poderia dizer que a técnica que eu ajudei a desenvolver, antes de vir para Portugal, está já a ser utilizada em pacientes, nos hospitais, embora ainda na fase de ensaio clínico. Tenho que confessar que me emocionei quando vi o vídeo da BBC a dar a notícia de que o primeiro protótipo começou a ser usado em pacientes, e vi os meus antigos colegas a darem conta dos desenvolvimentos que a técnica está a ter. Isto foi algo que eu também tive a oportunidade de semear e de regar, um projecto cientifico que está agora a chegar onde tem que chegar: às pessoas. É o mesmo que sinto quando vejo algumas das medidas em que acredito chegarem às escolas e terem o retorno por parte dos professores sobre a sua importância para o processo de aprendizagem em sala de aula e para que a edificação do Serviço Nacional de Educação possa acontecer. Ser ministro da Educação é tão ou mais gratificante do que ser cientista na luta contra o cancro. Eu sinto a mesma emoção , o mesmo compromisso, o mesmo empenho e ponho todo o meu talento ao serviço desta nova empreitada vital que é ser ministro da Educação