Era o convidado mais esperado, mas também o mais temido. O que iria Pacheco Pereira dizer aos socialistas no 21º Congresso do partido? Uma voz da direita no conclave mais exclusivo do PS. E Pacheco não estava ali para “dizer amabilidades”. Mas também não foi rejeitar a “geringonça”, nem clamar pela sua ilegitimidade, como desde o primeiro momento o seu partido – o PSD – tem feito. Não! Pacheco Pereira, que dividiu durante anos o estúdio da SIC com António Costa, na Quadratura do Círculo, não estava ali para dizer mal da “geringonça” que, apesar de achar que terá “sempre muitas dificuldades em sobreviver”, tem um apoio dos partidos mais à esquerda “que é mais sólido do que parece”. Estava para pedir que o seu “amigo” António Costa se liberte do discurso “economês” que prolifera em todos os partidos socialistas e social-democratas da Europa. E que mostre “mais intolerância” em relação às coisas. Porque Portugal “tem direitos na Europa e tem que lutar por eles. Não pode assinar de cruz”.
A Europa foi, aliás, o alvo preferencial dos convidados do PS para dar o pontapé de saída no segundo dia de Congresso na FIL, em Lisboa. Ana Drago, antiga dirigente do BE e fundadora do Livre, diz que se o socialismo não reconstruir uma “ancoragem à soberania popular”, então estará condenado a ser subordinado da direita. E aplaudiu a iniciativa de António Costa depois das eleições legislativas de 4 de outubro. “Se o PS não se tivesse sentado à mesa para discutir a geringonça, estaria condenado a nos próximos 10 ou 15 anos andar a reboque do PSD. Essa escolha é decisiva. Mas há muito trabalho a fazer”. E uma parte desse trabalho é levantar-se na europa para defender as escolhas do povo português, disse.
À mesa do debate estava também Pedro Silva Pereira, o eurodeputado do PS e responsável pela moção que António Costa apresenta ao congresso. Depois de ouvir Pacheco Pereira e Ana Drago dizerem que não há solução para a Europa enquanto vigorarem as regras do Tratado Orçamental e que é preciso que Portugal bata o pé a elas, Silva Pereira admitiu que “não é possível uma política económica de esquerda com os termos do Tratado Orçamental, mas não haverá moeda única sem regras orçamentais únicas”.
E a tal ideia tantas vezes repetida pelo primeiro-ministro de que o PS se compromete a tentar uma “leitura inteligente” dessas regras, o que passa por tentar alterá-las de alguma forma. Mas sempre com a certeza de que se chegar um momento em que for preciso escolher, Costa nunca optará por romper com a Europa.
Schulz “contra” sanções a Portugal
Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, que falou pouco depois aos congressistas, veio dar alguma esperança. Deixou claro que está “contra” qualquer sanção a Portugal por causa do défice e disse acreditar que as negociações que o governo português está a levar a cabo com a Comissão Europeia estão no bom caminho. O líder do SPD alemão acredita que, depois de todos os “sacrifícios” que os portugueses tiveram de fazer, “o país precisa de apoio e compreensão”.