Pode ser coincidência ou simplesmente azar. Mas, tirando uma peça sobre a Grécia que causou celeuma em Portugal, as várias outras polémicas que envolveram José Rodrigues dos Santos numa nuvem de críticas têm todas um ponto em comum: o PS.
A mais recente tem a ver com a dívida pública portuguesa. No início do telejornal da RTP de segunda-feira, o jornalista explicava como é que a dívida tem evoluído. Com um gráfico em destaque num ecrã foi classificando a dita como uma “dívida pública brutal”. lembrando que tinha atingido em 2005 os “96 mil milhões de euros” e “isto obrigava Portugal a travar o endividamento. Em vez de travar, Portugal fez exatamente o contrário. Como consequência, em 2011, a dívida pública já estava nos 185 mil milhões de euros. Para agravar as coisas, o Eurostat descobriu que vários países, incluindo Portugal, estavam a esconder a dívida em empresas públicas.”
O socialista José Magalhães, que se refere ao jornalista como o “Grande Apresentador” falou de “uma vigarice extrema, um enxovalho para o serviço público”. E o porta-voz do PS, João Galamba, acusou José Rodrigues dos Santos de ser “um especialista em desinformação”: “Havia dívida de empresas que não era contabilizada como dívida pública porque o Eurostat não contabilizava essa dívida como dívida pública, não porque se andasse a esconder o que quer que fosse da autoridade estatística europeia”, explicou na sua página de facebook.
Só que mais uma vez, José Rodrigues dos Santos deixou claro que não se deixa intimidar e dá uma entrevista ao jornal I acusando os socialistas de promoverem uma “campanha de insulto” em ” forma de pressão”. Pergunta até se os socialistas querem “calar” a RTP. E garante que em nenhum momento deu informação errada: “Se o que dizemos é verdadeiro, como acontece com a curva da dívida pública, o que querem que façamos? Que calemos a verdade?”
Miguel Vale de ALmeida, antigo deputado independente eleito pelo PS, garante mesmo que é “pressão”. “Claro que é uma forma de pressão. Qual o problema? Quando um âncora do canal público manipula informação e nos “pressiona” a sua versão das coisas como facto e não como opinião, como não reagir pressionando? Não se trata de apelo a censura ou saneamento, trata-se de denúncia de falta de profissionalismo e de manipulação.”, escreve no facebook.
Recorde outras polémicas
– Fogo cruzado entre Rodrigues dos Santos e José Sócrates
Ao recuar a 2005, José Rodrigues dos Santos acertou em cheio no coração do governo socialista de José Sócrates…. outra vez. É que os confrontos com o ex-primeiro-ministro também já tinham acendido a fúria socialista contra o jornalista logo em 2014, quando os dois partilhavam, de vez em quando, o estúdio da RTP para o espaço de comentário político de Sócrates. Nesse tempo, Rodrigues dos Santos foi aos “arquivos” com notícias de 2010 e 2011 para confrontar o ex-primeiro-ministro socialista com afirmações suas sobre “consensos”. Sócrates não gostou e a dado momento desabafou: “Não vinha preparado para isto”.
Quinze dias depois, novo confronto. A certa altura do comentário, Sócrates atirou ao interlocutor: “Não basta papaguearmos tudo aquilo que nos dizem para fazer uma entrevista”. Após silêncio prolongado, o jornalista responde: “muito bem. Fica registado o seu insulto, ao qual não vou responder”.
– A piada homofóbica
A relação com este PS de António Costa não começou bem, tinha o Parlamento sido eleito há poucos dias. A polémica começou quando o pivot da RTP informou que “o deputado mais velho [do parlamento] tem 70 anos e foi eleito – ou eleita – pelo PS.” Usar a expressão “eleito – ou eleita” quando se referia a Alexandre Quintanilha, deputado do PS, homossexual assumido, foi visto como uma prova de homofobia. Os críticos caíram-lhe em cima e o próprio António Costa veio exigir um “pedido de desculpas e uma tomada de posição pública da RTP sobre o assunto”, considerando “inaceitável” o comportamento de José Rodrigues dos Santos.
No dia seguinte, o jornalista usou novamente o espaço informativo da estação pública para endereçar as “devidas desculpas” e garantir que tinha sido um “equívoco”. Nas fileiras do PS ninguém acreditou na justificação, nem o próprio Quintanilha.
– Os paralíticos gregos
O pivot mais conhecido da televisão pública portuguesa tem tido vários episódios polémicos nos últimos anos. Há pouco tempo uma peça durante as eleições na Grécia levaram a esquerda a criticá-lo sem misericórdia. Referiu-se então aos gregos que circulavam perto da casa do antigo ministro da Defesa grego e se faziam passar por “paralíticos que subornavam um médico para obter uma certidão fraudulenta de deficiência que lhes permite receber mais um subsidiozinho”. Mais uma vez não se calou perante críticas e ao Diário de Notícias respondeu: “Só se podem dizer coisas com que os políticos concordem? Azar, porque eu falo”.
– Em 2007, acertou na própria RTP
Em 2007, José Rodrigues dos Santos esteve quase para ser despedido da RTP1 com justa causa, mas o caso acabou apenas numa suspensão. Em causa estava uma entrevista que deu ao Público e onde acusava a empresa de interferir ilegitimamente em matéria editorial.