O candidato presidencial Vitorino Silva (conhecido como Tino de Rans) passou a noite de segunda para terça-feira numa artéria de capital, na companhia de um sem-abrigo, para alertar para a necessidade de integração na sociedade de quem vive na rua.
De gorro na cabeça e com vários agasalhos, Vitorino Silva chegou à Avenida Almirante Reis, em Lisboa, pouco depois das 20h, uma hora depois do agendado. O objectivo era visitar a ‘sopa dos pobres’. Porém, à hora a que o candidato chegou já todas as refeições estavam servidas e o local já tinha fechado.
Sob o lema escolhido para o dia de hoje, “a solidão”, Vitorino Silva ouviu as preocupações e carências de três homens sem-abrigo que foram ter com ele, distribuindo vários abraços a todos eles.
“Tenha muita força”, afirmava o candidato, sublinhando que “ninguém pode morrer na rua num país chamado Portugal”.
Um dos homens com quem se cruzou contou-lhe que existem pessoas que chegam a ter apoios estatais, mas depois os perdem, tendo-se queixado da actuação das assistentes sociais.
“As assistentes sociais estão cá para ajudar”, afirmou Vitorino Silva, ouvido que “elas só ajudam quem elas querem”.
“Há meninos bonitos mesmo aqui na rua, há pessoas de primeira e de segunda?”, questionou o candidato, tendo o homem respondido “sim, sim”.
Mais à frente, o candidato a Belém encontrou Alfredo Brito. Após uma curta conversa, “Tino de Rans” descobriu que o homem já não sabe ao certo a sua idade, mas sabe que vive na rua há dez anos.
O candidato pediu então a Alfredo que lhe mostrasse o local onde costuma dormir, debaixo de uma arcada em frente a uma loja que ficava um pouco mais à frente. Chegados lá, Vitorino disse a Alfredo: “hoje fico aqui ao teu lado, está bem? Queres ficar do lado direito ou do lado esquerdo?”.
“Eu hoje estou aqui, hoje não vais estar só”, continuou, afirmando que “o povo tem de deixar de estar só, o povo tem de ter companhia”.
Vitorino Silva adiantou que objectivo desta iniciativa “é deitar a solidão para trás das costas”, e disse a Alfredo que hoje não vai passar frio, pois “mais importante do que os cobertores é o calor humano”.
“Quero que a partir de hoje toda a gente olhe para esta gente como gente como nós”, frisou, criticando os “políticos deste país que passam aí em frente com os vidros fumados e nem olham, nem reparam nesta gente”.
E continuou, frisando que “há muita gente que não tem amigos, que não tem com quem conversar, vivem sós, estão desintegrados da sociedade. O objectivo é integrar esta gente, esta gente também conta, e muito, pois é gente com história e é gente que tem muito para ensinar”.
Questionado sobre medidas que poderiam ser implementadas para ajudar as pessoas que dormem na rua, o candidato à Presidência da República defendeu que “a primeira medida é esta, é sofrer na pele, viver o que eles vivem, sentir o que eles sentem e depois as medidas aparecerão”.
Na opinião do candidato, “é preciso conhecer a realidade, não a distorcer”.
“A partir daqui eu vou ser outro homem, vou ter outra preparação e vou poder falar deste tema de outra maneira, e as pessoas que continuarem a passar aqui de vidros fumados e não olharem para o lado, que olhem para o lado, que parem o carro, e que abram os vidros, e que digam olá, e que perguntem quem são”, sublinhou.
Antes de se deitar, o candidato teve ainda oportunidade de prometer a Alfredo levá-lo para junto do irmão, que vive em Ponte de Sor, distrito de Portalegre.