“Se as qualidades gráficas dos cartazes para as presidenciais fossem decisivas para o resultado da eleição, eu diria que uma abstenção colossal não deveria surpreender ninguém”, comenta Vasco Colombo, diretor criativo do Atelier +2 Designers . Refere-se aos outdoors desta campanha como sendo “pouco empolgantes”, “desinspirados”, “pouco criativos ou motivadores”: “Não creio que tenham dado por si só grande ajuda aos candidatos”. Sinal dos tempos, talvez, que, diz, parecem refletir alguma perda de importância que este suporte tem vindo a sofrer.
Segundo analisa, as fotografias dos candidatos explicam quase tudo: os méritos e as falhas dos cartazes. Maria de Belém e Edgar Silva optaram pela “fotografia de estúdio clássica -uma espécie de fotografia tipo passe ampliada – em que se apresentam estáticos, solenes, presidenciáveis”. Sobretudo na candidata socialista, nota-se uma pós-produção carregada, “mas ambos acabam por transmitir uma pose hirta e pouco à vontade. A ideia que me passa é de dois candidatos a encenar uma pose que não lhes é natural”.
Já Marisa e Sampaio da Nóvoa enveredaram por uma postura oposta: “Sampaio em mangas de camisa, sugerindo ação. A sua pose, certamente mais estudada e encenada do que as de Edgar e Belém, terá sido no entanto melhor dirigida pelos criativos da campanha, resultando mais natural e credível. Marisa Matias apresenta a fotografia menos sofisticada de todas”. Porém, na opinião de Vasco Colombo, é a foto de Marisa que estabelece “uma relação de maior proximidade com o eleitor”: “A candidata olha-nos de frente, sem uma pose definida, vestígios de grande produção fotográfica ou atitude estudada e isso diferencia-a dos demais candidatos”.
Mais estudada, cuidada e consistente parece ser a comunicação gráfica de Sampaio da Nóvoa. É a única, continua Vasco Colombo, que apresenta o candidato como uma marca (SNAP), replicando os tiques de uma campanha publicitária. “A utilização do azul como cor dominante e do tipo de letra Gotham, ambos usados nas campanhas de Obama, mostram a vontade de repetir uma fórmula de sucesso”. No entanto, o resultado final, não parece conseguido: “É frio e desadequado para um candidato que, ao contrário do que acontecia com o presidente americano, tem como problema principal o ser pouco conhecido. Uma linguagem gráfica mais calorosa, com um pouco mais de emoção seria talvez mais acertada”.
Para o designer é, por oposição, Marisa Matias que apresenta a campanha mais graficamente descuidada. “O logótipo parece desenhado nos anos 90”, comenta, referindo “uma tipografia sem brilho e uma paleta baça de ocre e preto”. Serão, entanto, essas mesmas características que lhe conferem o tal “toque mais humano”. E é assim que o despojamento gráfico, ao reforçar a atitude informal de Marisa, se pode transformar num trunfo. “A evidente ausência de equipas especializadas em comunicação e marketing é um registo imediatamente reconhecível pelo seu eleitorado habituado ao estilo gráfico do Bloco, inconstante mas nunca institucional”. Mas, fica a dúvida: será que fora desse universo, este despojamento lhe traz vantagens?
Quanto ao cartaz de Edgar Silva, estamos perante “a paleta gráfica habitual na comunicação do partido comunista: o uso quase exclusivo do tipo de letra Futura Bold em itálico – virtualmente a fonte oficial do partido – um layout claro, frases em corpo grande sobre fundo branco, sem enfeites. As cores da bandeira nacional surgem numas “pinceladas” vermelhas, amarelas e verdes, num estilo gráfico também ele recorrente em material de propaganda do PC. A expressão austera do candidato confirma esta opção pela força da mensagem em detrimento de logotipos, ou paletas de cor sofisticadas”. O cartaz parece-lhe dirigido essencialmente ao eleitorado do partido, “e nisso creio que funcionará bem, sem demonstrar grande esforço para ir muito além…”
Mas se no caso de Edgar Silva, “a linguagem conhecida se usa deliberadamente para assegurar o reconhecimento de um estilo”, já o cartaz de Maria de Belém “peca por parecer datado”: “Belém tudo o que faz é recorrer a soluções um pouco antiquadas sem que se perceba alguma razão válida para isso”. Desde o tipo de iluminação da fotografia, ao fundo desfocado ou à solução encontrada para as cores da bandeira no acento do ‘e’. “Estes elementos não são óbvios para o cidadão comum, mas todos juntos deixam uma sensação de déja vu que dificilmente será vantajosa para a candidatura”, conclui.