ESTADO NOVO
– “Nasci em 1926, ano da Revolução de Salazar. do Estado Novo. Eu costumo dizer que sou irmão gémeo do Estado Novo e nunca dois irmãos gémeos se deram tão mal”.
SAÍDA DA ASSEMBLEIA
– “É uma regra que todos devíamos seguir, que é saber sair a tempo enquanto temos consciência de que ainda não estamos gagás (…) A certa altura a gente já não tem consciência de que a decrepitude se instalou, razão por que acho que as pessoas devem sair a tempo e dar lugar aos mais novos.” (a propósito de ter abandonado a presidência da Assembleia da República, ao fim de 30 anos de atividade parlamentar, aos 79 anos).
MORTE
– “Eu tenho uma posição de grande serenidade filosófica perante a morte. É um fenómeno natural e não há que reagir contra isso, mas é claro que tenho sempre pena quando perco um amigo.Sou um homem de afetos. Gosto de pessoas e dedico-me às pessoas, mas é verdade que ultimamente tenho perdido muitos amigos”.
DEUS
– “Sou agnóstico. Não me preocupo em negar que Deus existe, mas não acredito. Acho que uma coisa é a religião como verdade e outra é a religião como necessidade. A religião é uma necessidade social”.
REGRESSO
– (a propósito do regresso de Moçambique, após a descolonização) “É verdade que eu advoguei muito em Portugal, muito na Inglaterra, na África do Sul, e sempre que advoguei no exterior deixei cá fora uma reserva. Por isso, quando vim, depois do 25 de Abril, não vim pobre. O grosso dos meus haveres ficou em Moçambique e perdi-os. É claro que trouxe os meus livros, o meu instrumento de trabalho. Sabia lá se precisava de voltar a ganhar a vida como advogado. Trouxe as mobílias de minha casa e dos dois carros que tinha trouxe um carro”.
RETORNADOS
– “Tenho muita pena dos retornados, sou um deles. Fiz pelos retornados o que podia. E devo dizer-lhe uma coisa: quer a França, quer a Inglaterra, quer os outros países que tiveram colónias reconhecem que o país em que se passou melhor o problema do regresso dos residentes nos ex-territórios foi em Portugal”.
LEIS
– “Fui fundamentalmente um legislador, como político. A legislação é o registo da mudança”.
LEGISLADOR
– “Não tenho ideia de nenhum legislador português, mesmo na história do parlamentarismo, que tenha feito mais leis do que eu. A qualidade das leis que fiz não é a mim que compete julgar- Mas sei fazer contas. Não conheço nenhum deputado que tenha feito tantas leis como eu. E algumas das principais”. ( Redigiu os Estatutos dos Açores e da Madeira em 48 horas)
SEM SONO
– “Éramos chamados os homens sem sono. Nunca tive tanto sono na minha vida. É curioso que sendo eu um indivíduo que gosta de dormir fui o único que nunca dormiu nos conselhos de ministros de que fiz parte.Só uma vez é que vi o Cunhal a cochilar. Esse também não dormia. Os outros todos dormiam belas sonecas”.
IMPRENSA
– “Existe alguma liberdade de imprensa mas é muito limitada por um instrumento que se chama despedimento com ou sem justa causa. Se um jornalista não agradar à direção do seu jornal, ou com justa causa, ou sem justa causa perde o emprego. E os outros pensam duas vezes para não arriscarem perder empregos.Isso é perigoso para a salvaguarda da própria democracia. É uma das fragilidades da democracia moderna: o poder mediático nas mãos do poder económico.”
COMUNISTAS
– “A minha formação tem uma base marxista mas nunca fui comunista nem entrei no partido. Mas colaborei com o PCP e eles comigo em Moçambique. (…) Nunca nos combatemos. Veio o 25 de Abril e cada um foi para o seu lado”.
ORADOR
– “Não sou homem de grandes vaidades, mas acho que, e nem me gabo disto, fui um bom advogado e fui um bom jurista. E acho que fui um bom legislador. Também não fui um mau orador parlamentar, creio eu”.
CAVACO SILVA
– “O professor Cavaco Silva tem muitos méritos na área económica e financeira, mas não é um homem de cultura e, nessa medida, eu não espero que ele me ensine muito. Embora tenha apreço por ele- É um homem sério e honesto. É um belíssimo financeiro, mas não é da minha família psicológica- Eu sou um homem de afetos, ele não é, é um homem mais frio e, portanto, isso nunca nos aproximou muito”.
CUNHAS
– “Eu sou o único indivíduo que ainda hoje mete cunhas. Não peço nada injusto. Se for justo ajudo a resolver o problema deste desgraçado ou desta desgraçada. E toda a minha vida fiz isso”.
MÁRIO SOARES
-“Não tenho a menor dúvida em poder demonstrar e demonstrarei que os descolonizadores, nomeadamente o doutor Mário Soares, e indiretamente eu próprio também, teve uma responsabilidade mínima, eu diria mesmo nula na descolonização e teve até uma atuação positiva.”
DESCOLONIZAÇÃO
– “Se em Portugal não existisse o clima político que existiu, todo ele propenso a um esquerdismo extremo a influenciar as decisões, a entusiasmar tudo o que era de esquerda, a condenar tudo o que era moderado, já não digo de direita. Fomos vítimas do clima que se vivia em Portugal, quer nas Forças Armadas, quer no civil. Eu posso reivindicar para mim que me mantive sempre com uma certa moderação” (a propósito do processo de descolonização)”.
SPÍNOLA
– “O Spínola era um patriota, não há dúvida nenhuma sobre isso. Sonhou com a ideia de comunidade, um bocado fora de época, mas é uma ideia nobre, generosa. Foi pena que as ex-colónias não tivessem concordado com isso, porque teriam vivido estes trinta anos muito melhor do que viveram e quando fosse de cortar o cordão umbilical cortava-se sem dor. Ele esqueceu-se de que quando há guerra só podemos obter a paz negociando com quem nos faz a guerra. Ele queria negociar não só com quem nos fazia a guerra, mas com todos os partidos que surgiram, com todas as forças sociais, com a comunidade em geral. É uma ideia bonita, simplesmente irrealizável”.
PODER POLÍTICO
– “O poder económico e financeiro, o comunicacional e o tecnológico juntaram-se e travaram o poder político. A política hoje não manda nada”
GOVERNO SÓCRATES
– “Não é qualquer governo que toma medidas como estas e está disponível para sofrer as consequências” (a propósito das medidas anticrise do Governo Sócrates, em 2010)
JOSÉ SÓCRATES
– “Tem sido o mais eficaz de todos os primeiros-ministros. É um homem de bom-senso, nunca o vi a tomar uma atitude fora da sensatez. É um homem superior, um político de grande categoria”.
PRESIDENTE DA AR
– “(…)discussões no Parlamento de uma violência terrível… Batem nas mesas com as mãos. No meu tempo como presidente da AR isso não acontecia, porque eu não deixava. A verdade é essa. O problema não é das regras. Hoje entende-se que vale tudo para conseguir o poder”.
Fontes: A Capital, Público, Focus