Empréstimos de Santos Silva? Sim, confirmou Sócrates. Mas não aquelas “quantias exageradíssimas” apontadas pelo Ministério Público. “Lamento que algumas necessidades financeiras que tenho possam ser aproveitadas contra mim e contra a minha honestidade.” O juiz Carlos Alexandre pediu-lhe que quantificasse o valor das entregas. Sócrates não sabia, limitando-se a dizer: “1 milhão e 100 mil euros faz parte de uma ficção, posso-lhe afirmar com inteira segurança.”
Se pediu dinheiro foi por fruto das dificuldades financeiras. “Que vocês bem conhecem. Das conversas com a minha gestora de conta que são bem elucidativas do nível mixuruca da situação. Mas o que é extraordinário é que o facto de não ser um homem de fortuna é usado contra mim. Você faz isso para disfarçar, para enganar, para esconder o património que tem e sinceramente, procurador, esse é um pensamento equivocado.”
O interrogatório é interrompido pouco depois das 20h. No dia seguinte, pela manhã, José Sócrates está de regresso ao tribunal. Confrontado com conversas com a sua gestora de conta sobre o seu saldo medíocre e os seus elevados gastos mensais, Sócrates vira o discurso a seu favor e, num registo irónico, descreve-se como um “miserável”.
JS: Talvez deva agradecer ao Ministério Público o facto de ter exposto aqui todas as minhas misérias financeiras porque acho que isso joga tanto a meu favor que agradeço ter dado conta ao sr. juiz: Aqui temos um miserável! Que tem estas conversas com a sua gerente de conta mas a acusação decide acusar de ter 23 milhões de euros.
RT: Como os icebergs, só se vê o que está em cima da água, não debaixo de água.
JS: Já vi disfarces mais fáceis de fazer e menos humilhantes do que estas conversas com as gerentes de conta.
Mesmo na reta final, Sócrates manifestou a intenção de fazer umas “considerações finais”. Mas acabou por mudar de ideias: “Não vos vou maçar mais com retórica.”