A meio do interrogatório a Diogo Gaspar Ferreira, diretor-executivo do resort Vale do Lobo e um dos doze arguidos da Operação Marquês, o procurador Rosário Teixeira e o inspetor Paulo Silva perguntaram se saberia quem teria construído a casa do misterioso holandês responsável por uma transferência de 2 milhões de euros para as contas suíças de Joaquim Barroca, administrador do grupo Lena. O CEO da empresa que gere o empreendimento não sabia mas lançou um palpite: “O grupo Lena?” A resposta era mais surpreendente, quer para Diogo Gaspar Ferreira, quer para os investigadores: “Casa de Janas”. De Janas o CEO de Vale do Lobo só se lembraria de uma “Velharias de Janas”, que teria construído a cozinha da sua casa em Azeitão. “E de construções, nada?” Diogo Gaspar Ferreira achava impossível aquela empresa construir fosse o que fosse.
O segundo dado surpreendente é que essa empresa terá recebido do holandês Jeroen Van Dooren mais de 2,8 milhões de euros pela alegada construção da sua moradia de três quatros em Vale do Lobo: 1,2 milhões em 2008 e 1,6 milhões em 2009. À data, o empresário que figura na lista dos cem homens mais ricos da Holanda já teria pago mais de 4 milhões de euros à Oceano Clube (empresa que gere o empreendimento) pelo terreno de 3400 metros quadrados. Somando as duas despesas, terá desembolsado nada mais, nada menos, do que 7,2 milhões de euros naquele investimento imobiliário.
Como a Casa de Janas entretanto entrara em insolvência, os investigadores só terão tido a hipótese de fazer buscas à Velharia de Janas, cujo gerente terá sido sócio da Casa de Janas, e com quem a VISÃO tem tentado entrar em contacto nas últimas semanas, sempre sem êxito. Os investigadores terão percebido ainda que a empresa terá construído outros lotes em Vale do Lobo e dois imóveis na Quinta do Lago. Estes últimos terão sido adquiridos em nome de sociedades off-shore mas as obras terão sido conduzidas pelo mesmo cidadão holandês.
Jeroen Van Dooren foi ouvido em Maio no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) na qualidade de testemunha. Ao jornal “Expresso” disse ter transferido 2 milhões de euros para Joaquim Barroca (que acabariam nas contas de Carlos Santos Silva) a pedido de Diogo Gaspar Ferreira, mas Diogo Gaspar Ferreira já o negou ao “Expresso” e também em sede de interrogatório, quando foi constituído arguido no processo. Quando questionado sobre se conhecia ou não o holandês terá respondido: “Se conheço? Claro que conheço. Comprou um dos lotes mais caros de Vale do Lobo!”