Os mesmos políticos que comentaram o debate de dia 9 de setembro partilham as suas opiniões sobre o frente-a-frente das rádios.
José Vera Jardim, ex-ministro da Justiça do PS
Este foi um debate diferente, mais ao encontro do que eu esperava. Foi mais esclarecedor, porque mais extenso. Os jornalistas foram mais flexíveis, deram mais tempo para as respostas e a possibilidade de se explicarem questões, sobretudo em matéria fiscal e de Segurança Social.
Pedro Passos Coelho esteve mais ao ataque. Mas quando atacou com o Syriza [numa clara tentativa de colar o PS àquele partido grego], António Costa defendeu-se bem [ao responder que o Syriza escolheu a estratégia errada para a saída da crise].
Se houve um vencedor? É difícil dizer. Passos Coelho equilibrou mais, em relação ao último debate [dia 9, nas televisões] porque foi mais assertivo. Repetiu-se, mas tal como António Costa, esclareceu muito daquilo que tem sido dito na campanha. Esse esclarecimento esteve ausente no debate anterior. A Educação falhou e a Saúde também esteve ausente, mas hora e meia não dá para tudo.
Este debate não serviu para dar ânimo. Serviu para esclarecer as pessoas. O PS, manifestamente, não perde. Quem ganhou foram as pessoas, que ficaram mais esclarecidas.
Edite Estrela, deputada e diretora do jornal Ação Socialista
Foi um debate mais equilibrado.
António Costa venceu, do meu ponto de vista, porque foi genuíno, acutilante, como no primeiro debate. Foi igual a si próprio.
Pedro Passos Coelho esteve melhor do que no anterior e, por isso, não se notou tanta diferença, como no primeiro. Passos, com a sua voz bem colocada, de cantor, beneficiou com o facto de ter sido um debate na rádio. Mas notou-se que continua em estado de negação em relação ao estado do País e que não tem nenhuma proposta para o futuro. E não se conseguiu defender do facto de ter prometido tudo, em 2011, e não ter feito nada. Continua em estado de negação. Justifica-se com a política da austeridade, com a troika, mas nem a diminuição da dívida, que foi o objetivo que presidiu ao seu trabalho, ele conseguiu alcançar, porque a dívida está maior.
Passos Coelho esteve melhor na aparência, mas a substância continua a ser paupérrima. Só repetiu o que disse em 2011, com os resultados que conhecemos.
Já António Costa, só se confirmou como alternativa de confiança. Estava bem preparado em todos os dossiers, tem projeto eleitoral exequível e sustentado em contas sérias, é sério e tem consistência. Os socialistas só podem ficar satisfeitos com o seu líder, que é uma mais valia no PS e, sobretudo, uma mais valia para o País.
José Magalhães, deputado do PS
Foi um debate otimamente moderado, em que os moderadores não estavam obcecados com o horário dos sport publicitários. Mostraram-se capazes de alargar e não espartilhar o espaço de debate e permitiram aos gladiadores exibir as suas qualidades.
Passos Coelho seguiu a recomendação dos eu médico/marketeiro e mentiu muito mais ativamente. E continua a só ter simpatia daqueles que viveram no paraíso, nestes últimos quatro anos.
António Costa foi igual a si próprio. Conhece bem o que propõe. E comprovou-se que seria muito útil haver miais debates, porque continuou sem se debater a colossal crise europeia, de colossal défice de liderança, em todas as áreas; continuou sem se debater a Educação a sério, a Política Externa, a CPLP e a Língua Portuguesa.
E é preciso pensar que a realidade volta a 5 de outubro…
Duarte Marques, deputado do PSD
Comento este debate com muito mais gosto do que o anterior. Desta vez pareceu-me que estalou o verniz a António Costa, dando a ideia de que os socialistas ficaram deslumbrados com o primeiro debate, muito eficaz para quem gosta de espetáculo. Os moderadores deram um contributo importante, não permitindo que os candidatos deixassem perguntas por responder e dando tempo para as respostas.
Este modelo, para Pedro Passos Coelho, é muito melhor. Esteve mais solto e assertivo. Quando lhe deram a hipótese de explicar os temas, percebeu-se que é ele quem melhor domina os dossiês. Hoje ficou claro que há um grande conjunto de assuntos que António Costa não conhece. Decorou os soundbytes, mas não conhece as soluções para os problemas. Na parte das pensões, por exemplo, todos ficámos a saber que o líder do PS não distingue os tipos de pensões que existem.
Este debate permitiu que se esmiuçassem muito mais as medidas. E assim ficou clarinho como a água que Pedro Passos Coelho está mais bem preparado e sabe do que fala. Era o que faltava termos um primeiro-ministro que não soubesse. O que me deixou estupefacto foi o nível da impreparação do líder da oposição.
Apetece dizer: “Vai estudar [o programa do PS], ó Costa!”.
Se tivesse de usar uma palavra para cada líder seria competência para Passos e impreparação para Costa.
Miguel Pinto Luz, presidente da distrital de Lisboa do PSD
Num modelo de debate em que há tempo e é permitido aos candidatos que expliquem os factos e os assuntos que são importantes para a vida do País e dos portugueses, quer do passado quer do futuro, ficou provada a diferença entre Pedro Passos Coelho e António Costa.
Por um lado, um candidato que tem a necessidade de dizer muitas vezes que tem as contas feitas, mas quando confrontado com as mesmas, o País verifica que as contas estão mal feitas e distantes da realidade. Alguém que decora propostas que lhe transmitem, mas que não consegue explicar a execução das mesmas. E ainda alguém que se propõe manter as contas públicas em ordem, aumentando o nível de prestações sociais, e diminuindo os impostos, e não consegue explicar quanto isso custa aos portugueses nem de onde vem o dinheiro para tal aventura. Claro está que falo de António Costa!
Do outro lado temos alguém que não promete, mas que sabe exatamente como estão as contas, tem resultados de governação com sucesso (cumpriu um ajustamento difícil e recolocou o País na rota do crescimento). Alguém que sabe o programa que apresenta aos portugueses e sabe a ambição do mesmo, porque conhece a realidade do País e da vida dos portugueses. Alguém que pretende como o próprio disse colocar “o País a voltar a sonhar mas com os pés no chão”.
Ficou também claro que Costa só está disponível para vender compromissos que julga que lhe dão voto. A todos os outros compromissos sérios, importantes, fundamentais que Portugal precisa, como a reforma para sustentabilidade da segurança social, António Costa já diz que não.Foi uma vitoria da política e da substância sobre a demagogia e a retórica. Foi uma vitória de Pedro Passos Coelho. Com tempo e com regras, Pedro Passos Coelho explicou ao que vinha e demonstrou ser merecedor da confiança dos portugueses.
Filipe Anacoreta Correia, dirigente do CDS/PP
No último debate que opôs António Costa a Pedro Passos Coelho entendi que, em termos de postura, o líder da coligação transmitiu mais autenticidade e serenidade. Desta vez, achei que António Costa conseguiu melhorar em termos de tranquilidade, mas foi mais sobranceiro o que acabou por correr-lhe mal. Demonstrou alguma leviandade. Fez-se esperar, chegou atrasado e ria-se numa atitude que caiu mal em relação à seriedade dos assuntos em causa. Acabou por ser penalizado por aquela gaffe de não ter conseguido responder à questão das pensões e de não ter acedido ao apelo do primeiro-ministro em matéria de Segurança Social.
Passos teve uma atitude mais incisiva e ao entrar no pormenor da discussão sobre os dossiês reforçou a sua credibilidade. Isso beneficiou-o. Ele é muito explicativo e às vezes isso torna-o um pouco maçador, mas, neste caso, foi vantajoso, porque estavam a discutir-se questões concretas que ele dominava bem. Ressaltou a imagem de um Pedro Passos Coelho consciente da gravidade dos assuntos e empenhado em resolvê-los.