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Pergunta desta semana: Estudo recente aponta para que 60% dosempregos em Portugal vão desaparecer nos próximos 10 e 20 anos, por efeitos da automação. Portugal já tem 20% da população emigrada. O desemprego vai ser o grande problema dos próximos anos? Que estratégia para o minorar?
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Pergunta da segunda semana
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Pergunta da primeira semana
PEDRO PASSO COELHO, líder da coligação Portugal à Frente (PaF)
É verdade que vagas sucessivas de progresso tecnológico implicaram o desaparecimento de muitas atividades profissionais. Mas trouxeram também muito mais empregos do que aqueles que fizeram desaparecer. A questão é saber como aproveitamos os avanços tecnológicos. A resposta é uma economia flexível, que saiba absorver com rapidez os benefícios que geram e apostar na qualificação.
Mas o desemprego, nos últimos 15 anos, tem causas diferentes e decorre de opções erradas, que conduziram a um grave endividamento público e externo e a desequilíbrios que tornaram a economia cada vez menos capaz de produzir riqueza. Ou seja, radica na desadequação de um modelo económico assente no estímulo artificial ao consumo e no investimento público irracional, precisamente aquele a que alguns partidos querem agora regressar. ?A inversão dessa linha e a introdução de reformas em diversos setores tornou patente que é possível voltar a crescer e a criar emprego. Demonstra-o termos hoje uma taxa de desemprego inferior àquela que existia em junho de 2011 e o facto de haver, desde janeiro de 2013, mais 233 000 pessoas empregadas.
O nosso objetivo é diminuir o nível do desemprego, no mínimo, para a média europeia. Se concretizarmos o crescimento económico projetado, assente no investimento produtivo, na manutenção dos equilíbrios macroeconómicos, na prossecução de reformas que aperfeiçoem o contexto favorável do desenvolvimento da economia e no progresso na competitividade. Além do crescimento económico, há que continuar a assegurar políticas públicas de educação, emprego e formação profissional que promovam competências e qualificações, em linha com os empregos e necessidades futuras, tendo sempre presente a empregabilidade.
Concretizar a escolaridade obrigatória no 12.º ano, continuar a investir na aprendizagem dual e no ensino vocacional, introduzir cursos de técnicos superiores profissionais nos Politécnicos, incrementar a aposta nas políticas ativas de emprego, são exemplos que pretendemos levar mais longe. Uma economia assente no conhecimento e na inovação, em setores e empresas competitivas, impõe que o sistema de educação e formação esteja virado para a melhoria de funcionamento das empresas. O Portugal 2020, cujo desenvolvimento se intensificará nos tempos mais próximos, está orientado para a seletividade dos investimentos, priorizando a empregabilidade numa dimensão prospetiva e valorizando o aumento transversal das competências dos portugueses.
ANTÓNIO COSTA, Secretário-geral do PS
Todas as economias enfrentam atualmente desafios que têm múltiplas origens e que requerem respostas multifacetadas. Portugal é membro de uma área monetária alargada, no seio da União Europeia e parte desses desafios serão ganhos ou perdidos nesse contexto. A posição portuguesa deve ser atuante e é por isso que o Programa Eleitoral do PS assume o compromisso de promover uma participação ativa na construção da área do euro, assumindo aí todas as suas responsabilidades, mas não abdicando de ter uma voz ativa.
O emprego é, esse sim, o grande problema da economia portuguesa nos próximos anos. Percebemos no período mais recente como é que, mesmo sem criar emprego conseguimos reduzir o desemprego: pelo desencorajamento e pela emigração. Mas estas não são estratégias sustentáveis. A economia portuguesa não pode continuar a perder recursos humanos. Há 14 trimestres que isso acontece. São mais de 260 mil ativos perdidos entre 2011 e 2015. E este processo não parou. Ainda em 2015 estamos a perder mais de 50 mil pessoas em cada trimestre face a 2014.
A estratégia para inverter esta evolução passa por devolver a confiança aos portugueses. Confiança em si mesmos, nas empresas e nas famílias, mas confiança também no Governo. Para que o ziguezaguear de políticas, irrevogáveis e inconstitucionais deixe de ser a matriz governativa. Para que os cortes de pensões e de salários deixem de ser conjugados com os enormes aumentos de impostos, como tradução da política económica em Portugal. Em que tudo é pedido aos portugueses e tudo é privatizado sem regra nem preceito.
A criação de emprego requer uma redução da carga fiscal, uma aposta concreta na capacidade de inovação das empresas, que mantenha o seu direcionamento para outros mercados, e uma redução da pobreza, em particular entre os mais jovens. Para que a aposta das famílias nas qualificações dos seus filhos não seja um privilégio de poucos e permita uma redução das desigualdades em Portugal.
A nova estratégia de crescimento do emprego requer uma Administração Pública moderna e uma alteração das relações laborais que deixem de assentar na precarização e nos baixos salários. Em que a confiança entre empresas e trabalhadores se traduza em investimentos duradouros e por conseguinte empregos de qualidade.
JERÓNIMO DE SOUSA, Secretário-Geral do PCP
Melhor dizendo, o desemprego é já hoje o maior flagelo da nossa sociedade.
O desemprego real que atinge mais de 1 milhão e 200 mil portugueses constitui um grave problema social e económico e um verdadeiro travão ao desenvolvimento do nosso País.
O desemprego não é uma inevitabilidade, ele é fruto do capitalismo, da política de maximização do lucro e acumulação de riqueza nas mãos de alguns.
A existência de centenas de milhares de trabalhadores desempregados é um fator de abaixamento dos salários e aumento da precariedade.
Estima-se que o desemprego real tenha custado ao País só em 2014 cerca de 31% do PIB, resultantes de quebras nas receitas da segurança social, quebras na receita fiscal e quebras nas remunerações dos trabalhadores desempregados.
O crescimento económico, o desenvolvimento da produção nacional e o pleno emprego devem ser os objetivos principais das políticas económicas que permitam enfrentar e resolver o flagelo do desemprego no nosso País.
O crescimento económico, sustentado e vigoroso, criador líquido de postos de trabalho, pondo fim a um longo período de estagnação e recessão, acompanhado pelo crescimento significativo do investimento público e privado, pela ampliação do mercado interno, pelo incremento das exportações, em especial as de maior valor acrescentado, pelo aumento da produtividade e competitividade das empresas portuguesas.
O desenvolvimento da produção nacional, como motor do crescimento económico e do pleno aproveitamento das capacidades e recursos nacionais, como resposta à procura interna, como alternativa a muitas importações e como suporte de um setor exportador de maior valor acrescentado e mais diversificado, nos produtos e nos destinos.
O pleno emprego acompanhado pela valorização do trabalho, pela melhoria da sua remuneração, qualidade, estabilidade e direitos, e com um combate decidido à precariedade e à insegurança, ao desemprego estrutural e de longa duração.
Objetivos que exigem a rutura com a política de direita e de submissão aos constrangimentos da UE, bem como a renegociação da dívida para libertar meios financeiros indispensáveis ao desenvolvimento económico.
CATARINA MARTINS, Coordenadora do Bloco de Esquerda
Os resultados desse estudo são um pouco sensacionalistas e bastante exagerados. É claro que, depois do processo de deslocalização industrial, os crescentes níveis de automação, articulados com sistemas onde os serviços são partilhados e oferecidos pelos próprios utilizadores, representam uma pressão maior sobre o mercado de trabalho. Esta pressão sente-se, principalmente, nos setores menos qualificados e capazes de responder a ruturas tecnológicas. É preciso responder, politicamente, ao nível da regulação de alguns desses mercados e apostar, ao contrário do que aconteceu nestes últimos quatro anos e meio, na qualificação da população.
A pressão que existe sobre o mercado de emprego aconselha a uma nova divisão do trabalho. É por isso que o Bloco defende a redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais nos setores público e privado, conjugando redução do tempo individual de trabalho, criação de emprego e redistribuição da riqueza, com aumento de produtividade e rentabilização do tempo de funcionamento das unidades de produção de bens e serviços.
A extensão do número de estágios, pagos com dinheiros públicos, tem contribuído para a criação de um “exército” de trabalhadores disponíveis para exercer funções abaixo do seu custo e para desvalorizar os salários. O Bloco defende, por isso, a limitação da comparticipação pública de estágios. No final de cada programa de estágios comparticipados, só poderão voltar a concorrer a novo programa as empresas que tenham integrado nos seus quadros pelo menos metade dos estagiários recebidos no programa anterior. ?É preciso moralizar estes programas e garantir que não são uma pressão para desvalorizar ainda mais os salários e um obstáculos à contratação.