Segundo um inquérito realizado pela organização não-governamental (ONG), quase todas (99%) as famílias que regressaram ao Afeganistão nos últimos meses não têm comida suficiente para sobreviver e a maioria vive de ajuda de familiares ou amigos.
Cerca de 40% têm de pedir comida pelo menos três dias por semana, enquanto 13% o fazem todos os dias, de acordo com os mesmos dados.
Todas estas pessoas foram obrigadas a reduzir ou restringir o número de porções de alimentos por dia, denuncia a Save The Children.
A organização estima ainda que aproximadamente uma em cada seis destas famílias vive em tendas, com poucos ou nenhuns meios de subsistência, já que apenas um terço conseguiu trazer alguns bens do Paquistão.
“As famílias regressam ao Afeganistão praticamente sem nada. O regresso de tantas pessoas está a criar uma necessidade adicional de recursos já sobrecarregados”, alerta o diretor da Save the Children no Afeganistão, Arshad Malik, citado no documento.
Por outro lado, segundo quase metade (47%) dos inquiridos, não há trabalhos disponíveis no Afeganistão e mais de oito em cada 10 pessoas que foram obrigadas a regressar não têm qualificações que lhes permitam conseguir um emprego.
A educação é outra das questões apontadas pela ONG que sublinha que quase dois terços (65%) das crianças que regressaram ao Afeganistão não estão na escola.
Embora frequentassem a escola no Paquistão, a maioria (85%) afirma não ter os documentos necessários para se matricular no Afeganistão.
“Os meninos e meninas afegãos precisam de apoio e estabilidade. Muitos dos migrantes indocumentados nasceram no Paquistão. O Afeganistão não é o lugar que consideram como o seu lar”, aponta o representante da ONG no país.
Mais de 520 mil afegãos, quase metade dos quais menores de idade, deixaram o Paquistão, depois de o Governo deste país anunciar, em outubro do ano passado, que os residentes estrangeiros sem documentação teriam de partir voluntariamente num prazo de um mês ou seriam deportados.
Aproximadamente uma em cada sete pessoas no Afeganistão vive fora da sua casa. O relatório da Save the Children indica que o Afeganistão é o segundo país do mundo com o maior número de pessoas deslocadas internamente.
Quase dois milhões de afegãos viviam no Paquistão depois de terem fugido do regime repressivo do seu próprio país, mas a eleição de um novo Governo em Islamabad deu início a uma campanha de expulsões, mesmo daqueles que tinham sido incluídos em programas de ajuda.
A decisão é especialmente perigosa para as mulheres, os defensores de direitos humanos e os antigos funcionários do Governo apoiado pelos Estados Unidos, que, ao serem deportados, ficam à mercê dos talibãs, regressados ao poder do Afeganistão em agosto de 2021.
O plano de expulsões de Islamabad deverá ter nova fase agendada para agora.
Um responsável do Ministério do Interior do Paquistão, citado pela agência de notícias espanhola EFE sob condição de anonimato, adiantou que as autoridades estão a trabalhar numa segunda fase do programa, cujo início estava programado para 15 de abril (segunda-feira passada), após o final do Ramadão, o mês sagrado para os muçulmanos de todo o mundo.
O Paquistão é um dos países que mais acolhem refugiados no mundo, na sua grande maioria afegãos que fogem de guerras no seu país há quatro décadas.
Segundo os últimos dados da ONU, estão registados no Paquistão aproximadamente 1,3 milhões de refugiados afegãos, mas as autoridades paquistanesas estimam em 1,7 milhões os afegãos que vivem de forma irregular no país.
O Paquistão não é signatário das convenções internacionais relativas ao estatuto dos refugiados, nem tem uma legislação nacional que lhes garanta proteção.
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