“Nós temos um programa estratégico de cooperação assinado com Moçambique que já tem os eixos bem identificados. Há uma área claramente desta missão que ressalta como uma área de priorização que é a educação, quer em matéria do ensino da língua portuguesa, em que temos de investir mais e fazer mais, quer em matéria de apoio às escolinhas, ao pré-escolar, mas também depois ao resto do ciclo educativo”, reconheceu a dirigente, que terminou hoje uma visita de cinco dias ao país.
A presidente do Camões — Instituto da Cooperação e da Língua destacou, em entrevista à Lusa, a “importância” do apoio que tem sido dado a “várias organizações” no terreno, em coordenação com as autoridades moçambicanas, no pré-escolar, ter depois “continuidade” nos restantes níveis de ensino.
“Há aqui uma área da educação em que nós temos que pensar como é que poderemos fazer mais investimento e também mais parcerias com as autoridades moçambicanas”, disse.
Ana Paula Fernandes reconheceu que o apoio ao empreendedorismo e ao trabalho com os jovens é outra área em que a cooperação portuguesa pretende “trabalhar mais”, apesar dos resultados do projeto “muito emblemático” em Cabo Delgado, denominado +Emprego, financiado pela União Europeia e que o instituto Camões gere e cofinancia.
“Esse projeto que estamos a fazer em Cabo Delgado é fundamental, além da ajuda humanitária que demos, de mais de um milhão de dólares ao OCHA [Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas] no final do ano passado, temos também que trazer esperança e opções à juventude e isso é o objetivo do projeto, de criar esse emprego. Podemos, talvez, também pensar nisso para outras áreas e outras regiões onde estamos a trabalhar”, disse.
“Efetivamente, temos de reforçar a base do empreendedorismo, a base da criação de emprego e do nosso trabalho com jovens e com as mulheres. Temos bons exemplos disso na Ilha [de Moçambique, província de Nampula] onde há uma associação de mulheres que já tem a sua loja que está a produzir o seu artesanato, obviamente em coordenação com organizações que trabalham connosco, organizações moçambicanas e organizações portuguesas”, disse.
Segundo a responsável, é preciso “investir mais nesse tipo de projetos, que criam a possibilidade das pessoas terem o seu próprio emprego, desenvolverem o seu próprio negócio e consolidarem esse negócio”.
Destacou ainda que a cultura e o património será uma área que “continuará a ser muito importante” na relação entre Portugal e Moçambique: “Temos vários projetos em curso, a Rampa dos Escravos, a Capela na fortaleza [reabilitações de espaços históricos na província de Nampula], mas também há a valorização cultural, dos escritores moçambicanos, da cultura moçambicana, a partilha de culturas que tentamos fazer nos nossos centros culturais”, reconheceu a dirigente do Camões.
Ana Paula Fernandes insistiu na importância de a cooperação portuguesa continuar a investir no património e na cultura, enquanto “peça identitária fundamental ao desenvolvimento”.
“Cultura e desenvolvimento é um nexo importantíssimo, como é o nexo segurança e desenvolvimento e, portanto, Portugal continuará a estar aqui disponível para apoiar em matéria de cooperação portuguesa, obviamente, as autoridades moçambicanas no que entendam ser prioritário”, apontou.
A exemplo do programa +Emprego, cuja segunda fase vai ser discutida com as autoridades moçambicanas e com a União Europeia, valorizou o impacto das ações tripartidas, como um outro projeto, em Moçambique, envolvendo o Brasil e Portugal, na melhoria do cultivo de café.
“Melhoria do cultivo do café e, portanto, criação de riqueza e de emprego (…) É muito importante também trazermos outros parceiros da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] e o Brasil é aqui um parceiro muito importante. E, portanto, trabalharmos também neste trio, Portugal ou outros parceiros, e Moçambique. Isto também é um bom exemplo do que poderemos fazer no futuro”, concluiu.
*** Paulo Julião, da agência Lusa ***
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