Um dos nomes grandes do jornalismo espanhol, Berna González Harbour, escreveu no último fim de semana, no El País, que “uma das virtudes da democracia é que os líderes se esgotam (…) e que nenhum é imortal”. A prosa tinha como tema a mulher que, desde 2019, preside a Comunidade Autónoma de Madrid, Isabel Díaz Ayuso: “É duvidoso que alguém consiga recordar-se de uma única política sua que tenha deixado marca, mas é sem dúvida um fenómeno de massas, um animal político. Atrai a sua forma de falar, de provocar, de vestir, de comparecer, de ter imagem própria e de impor-se à dos outros, seja Sánchez [o primeiro-ministro e secretário-geral dos socialistas do PSOE] ou Feijóo [líder da oposição e do Partido Popular, formação da qual Ayuso é militante há quase duas décadas]”.
Com 45 anos, a dirigente conservadora e antiga repórter formada na Universidade Complutense parece ter uma tendência especial para ser, ela própria, notícia. Nos últimos dias, têm sido muitos os meios de comunicação social a exigir a sua imediata demissão. Motivo: o seu companheiro sentimental, Alberto González Amador, já confessou três crimes – dois de evasão fiscal e um de falsificação de documentos –, num processo de intermediação e venda de máscaras anti-Covid, durante a pandemia. Pormenor: os negócios realizados entre o empresário e várias instituições (públicas e privadas) de saúde, na área metropolitana da capital espanhola, realizaram-se através de firmas-fantasma, contratos fictícios e esquemas criativos de sobrefaturação que envolveram testas de ferro (incluindo dois irmãos andaluzes, um camionista, o outro mecânico de bicicletas e automóveis).