A Coreia do Sul está a enfrentar uma crise política a menos de três meses das eleições para a Assembleia da República, e tudo devido a um alegado presente oferecido à primeira-dama desse país, Kim Keon Hee. Atualmente, o presidente Yoon Suk Yeol está a enfrentar a crítica popular e tensões dentro do próprio partido, Poder Popular, devido à divulgação de um vídeo colocado na internet no final do ano passado e supostamente gravado de forma secreta em setembro de 2022.
As imagens polémicas
O vídeo terá sido gravado em segredo pelo pastor coreo-americano Choi Jae-young, através de uma câmara oculta na roupa. Nas imagens, vê-se Choi a entrar numa loja Christian Dior e a comprar uma mala que custava três milhões de won, o que equivale a cerca de 2070 euros. Em seguida, Choi entra nos escritórios da Covana Contents em Seul, onde se encontra com a primeira-dama e entrega-lhe o saco de compras da marca de luxo. “Não continues a fazer isso” e “Nunca compres algo tão caro como isto” são as palavras que se ouvem de Kim ao ver o presente que Choi lhe ofereceu.
O vídeo não revela exatamente o que estava dentro do saco dado a Kim, mas o jornal Korea Herald afirma que o gabinete da presidência confirmou a receção da mala Dior, que diz estar a “ser administrada e armazenada como propriedade do governo”.
Choi admitiu ao mesmo jornal que planeou a gravação por querer expor Kim. Conta que, num encontro anterior, ouviu a primeira-dama a ter uma conversa telefónica em que abordava assuntos de Estado delicados. Alarmado com a situação, decidiu gravar de forma secreta o encontro seguinte através de uma câmara colocada dentro do relógio de pulso. O pastor diz que quer provar abusos de poder por parte da mulher do presidente e defende-se dos meios utilizados para atingir os seus fins, alegando que apenas o conseguiria fazer através de uma câmara de espião.
As leis anticorrupção da Coreia do Sul proíbem que o cônjuge de um funcionário público receba presentes que tenham um valor superior a 1 milhão de won, cerca de 687 euros, uma vez que isso pode afetar “ os deveres do funcionário público”.
Envolvidos polémicos
Choi é conhecido pelas ligações à Coreia do Norte, tendo visitado por diversas vezes esse país e realizado momentos de oração nas igrejas administradas por Pyongyang. Apoiante da ideia de unificação das duas Coreias, Choi está a ser criticado pela divulgação desta gravação secreta. Apoiantes do atual presidente acreditam que tudo não se passou de uma manobra do pastor para influenciar o resultado das próximas eleições.
Esta não é a primeira controvérsia ligada a Kim Keon Hee, que já antes foi acusada de plágio em trabalhos académicos e de manipulação de ações. Situações que já causaram constrangimento ao seu marido, que no início deste mês vetou um projeto de lei que teria autorizado uma investigação especial ao suposto envolvimento da mulher no alegado caso de manipulação de ações.
Influência nas eleições
A 10 de abril, a Coreia do Sul vai a eleições para a Assembleia da República e esta última polémica pode influenciar a intenção de voto. Uma investigação divulgada num canal de notícias do país mostra que 69% dos entrevistados querem que o presidente explique a sua posição em relação à polémica relacionada com a primeira-dama.
Outra pesquisa realizada em dezembro mostrou que 53% dos entrevistados acreditam que Kim agiu de forma inadequada, enquanto 27% disseram que ela foi apanhada numa armadilha que tinha o objetivo de a prejudicar.
Os principais críticos do país referem que o presidente deveria ter feito um pedido de desculpas logo após a divulgação do vídeo, o que não aconteceu, o que muitos consideram fulcral para a situação continuar a escalar e a causar desconforto no país.