Alexei Navalny, que está, há cerca de um mês, numa colónia penal remota, acima do Círculo Polar Ártico, afirmou, através da sua conta na rede social X (gerida pelos seus advogados) que tem sido obrigado a acordar todos os dias às 5 da manhã ao som do hino nacional russo, seguido de uma canção pop de um artista conhecido, defensor de Putin, também utilizada no estabelecimento como forma de punição, afirma.
“Aqui, todos os dias às 5 da manhã ouvimos o comando: ‘Acorda’, seguindo-se o hino nacional russo. Imediatamente a seguir é tocada a segunda música mais importante do país – I’m Russian, de Shaman”, pode ler-se na publicação de Navalny.
“O cantor Shaman apareceu em palco quando eu já estava preso, pelo que não pude ver nem ouvir a sua música. Mas sei que ele é atualmente o cantor principal de Putin”, lê-se também. O artista, com 31 anos, é apoiante assumido de Putin e um dos mandatários da sua candidatura às Presidenciais de 2024. Além disso, é defensor da invasão russa à Ucrânia, tendo atuado para soldados russos em lugares ucranianos agora ocupados pelos russos, como Mariupol.
Essa música aborda a forma como os russos lutam “até ao fim” e não podem ser destruídos. O seu refrão pode ser traduzido como “Sou russo, Vou lutar até ao fim/ Sou russo, O sangue do meu pai corre em mim./ Sou russo e tenho sorte com este facto/ Sou russo para irritar o mundo inteiro“.
Depois da partilha desta publicação, Kira Yarmysh, porta-voz de Navalny, referiu que o opositor russo tinha sido colocado na solitária durante 10 dias por se ter “apresentado incorretamente” a um guarda. Yarmysh afirmou ainda que esta foi a 25ª vez que Navalny foi colocado em confinamento solitário e que já tinha passado 283 dias nessas mesmas condições.
O ativista de 47 anos, inimigo número um do presidente russo, cumpre uma pena de 19 anos de prisão por extremismo. Foi detido em janeiro de 2021, ao regressar à Rússia depois de recuperar na Alemanha de um envenenamento que atribui ao Kremlin.
A colónia onde Navalny está atualmente detido, apelidada de “Lobo Polar”, é um estabelecimento herdado dos ‘gulag’ soviéticos. O opositor publicou, anteriormente, uma foto do minúsculo pátio cercado da prisão, onde pode caminhar bem cedo pela manhã, quando as temperaturas são muito baixas. Com um tom irónico nas suas mensagens, Navany já abordou o “maravilhoso ar fresco que sopra no pátio apesar do muro de betão”, observando que o mercúrio ainda não tinha descido abaixo dos -32 graus Celsius.
O tempo passado atrás das grades já teve consequências na sua saúde, segundo os seus apoiantes, e o ativista parece agora magro e envelhecido. Nos países ocidentais, as suas condições de detenção e, em particular, as suas consequências no seu estado físico, são fortemente denunciadas.