“Depois de uma análise cuidadosa, tomámos a decisão de eliminar gradualmente as nossas operações em Myanmar”, afirmou a H&M, num comunicado enviado à agência de notícias Reuters.
A retirada do segundo maior retalhista de moda do mundo, a H&M, surge na sequência de novas alegações publicadas pelo Business and Human Rights Resource Centre (BHRRC), um grupo de defesa dos trabalhadores. Na última quarta-feira, a BHRRC afirmou, num relatório, ter documentado 212 alegados casos que afetam pelo menos 108 mil trabalhadores, entre fevereiro de 2021 e fevereiro deste ano.
De acordo com o mesmo documento, a redução e o roubo de salários foram as alegações mais frequentes, seguidos de despedimentos sem justa causa, de horários de trabalho desumanos e de horas extraordinárias forçadas.
A organização registou abusos como “violência e assédio com base no género, incluindo abusos verbais, psicológicos e físicos”, e “a discriminação na gravidez é “generalizada”, afirma o relatório.
Desde o golpe militar em Myanmar, em fevereiro de 2021, o setor do vestuário do país “tem registado perdas substanciais de postos de trabalho, a par de uma proliferação de abusos dos direitos laborais contra a sua mão de obra maioritariamente feminina”, declara ainda a BHRRC.
Segundo a BHRRC, os trabalhadores afetados “trabalham em 124 fábricas que produzem para, pelo menos, 47 marcas e retalhistas de moda mundiais”, incluindo a Inditex, proprietária da Zara, a Marks & Spencer, a Primark e a H&M.
A H&M assegurou, por seu lado, que “todos os casos levantados no relatório da BHRRC estão a ser acompanhados e, quando necessário, corrigidos” a partir da sua equipa local no terreno e “em estreita cooperação com as partes interessadas relevantes.”
A H&M está entre as 19 marcas que fazem parte do projeto MADE, financiado pela União Europeia, que visa melhorar as condições de trabalho nas fábricas de vestuário de Myanmar. A UE defende que as empresas continuem a abastecer-se de vestuário em Myanmar, sendo que o país conta com mais de 500 fábricas que produzem para grandes marcas.
“A participação de uma empresa em debates com grupos de defesa dos direitos dos trabalhadores e sindicatos locais sobre salários e condições de trabalho pode ser uma vantagem”, afirmou Karina Ufert, diretora-geral da Câmara de Comércio Europeia em Myanmar. “Ao sair do país, é difícil ver como se pode influenciar as condições locais”, acrescentou ainda.