A informação sobre o urânio desaparecido foi passada pelo diretor geral da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA), Rafel Grossi, aos estados membros da organização – na passada terça feira, os inspetores perceberam que 10 contentores “não estavam presentes como previamente declarado” num local da Líbia sem controlo governamental.
A agência vai agora investigar para “clarificar as circunstâncias da remoção do material nuclear e a sua localização atual”.
O urânio natural não pode ser usado diretamente para alimentar uma bomba ou para a produção de energia, mas cada tonelada, nas mãos de quem tenha os recursos tecnológicos, pode ser refinada até se tornar material capaz de criar armas nucleares, avisam os especialistas, explicando porque o desaparecimento em causa pode constituir uma ameaça.
A falta dos 10 contentores foi detetada no âmbito de uma inspeção que tinha estado agendada para o ano passado mas que teve de ser adiada por razões de segurança na região, segundo Grossi, citado pelas agências internacionais.
“A perda de conhecimento sobre o paradeiro atual de material nuclear pode representar um risco radiológico, assim como preocupações de segurança nuclear”.
Segundo a Associated Press, o local onde se encontravam os bidões com urânio situa-se em Sabha, a 660 quilómetros a sudeste da capital, numa zona perto do deserto do Saara e fora do controlo das autoridades de Tripoli.
Neste local, o antigo ditador da Líbia Muammar Khadafi (1942-2011) mandou armazenar milhares de bidões com urânio natural (“yellowcake”) para serem depois transformados numa unidade de conversão de urânio, que nunca chegou a ser construída.
Em 2003, após a invasão do Iraque pela coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, Khadafi anunciou a intenção de construir um programa nuclear, usando o material armazenado.
Parte do material (urânio natural) foi retirado pelos inspetores da ONU do país, mas cerca 6.400 barris mantiveram-se em Sabha.
De acordo com mensagens diplomáticas divulgadas pelo portal WikiLeaks em 2009, os Estados Unidos mostravam receio sobre as supostas intenções do Irão em aceder ao urânio da Líbia.
Kadhafi foi morto após os levantamentos das Primaveras Árabes em 2011, numa altura em que eclodiu a guerra civil na Líbia.
Nos últimos anos, Sabha tornou-se num dos pontos de passagem das rotas de migração irregular controladas por traficantes de seres humanos.
A região de Sabha está sob o controlo do autoproclamado Exército Nacional Líbio, comandado pelo general Khalifa Hifter.
Ainda segundo a Associated Presse, Hifter foi um antigo contacto dos serviços de informações norte-americanos (CIA), sobretudo durante o regime de Khadafi em que viveu exilado. Nesta altura, Hifter combate o governo de Tripoli, pelo controlo de todo o país.